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Crônicas corrosivas e gestos de amor

Figuras de linguagem – resumo e exemplos

Está confuso com toda essa história de figuras de linguagem? Acredite, você não está sozinho. Se elas fossem duas ou três, seria muito mais fácil assimilá-las. Mas estamos falando de várias e várias. Assim, é somente natural ficar bastante confuso diante dos seus nomes (alguns bem estranhos) e significados.

Mas, procure relaxar. Neste artigo, vou passar para você da forma mais didática e simples possível o significado das figuras de linguagem. Em alguns casos, vamos ver alguns exemplos retirados de minhas crônicas e romances para que você acabe, de uma vez, com todas as suas dúvidas.

Resumo e Exemplos de Figuras de Linguagem

Figuras de Linguagem são utilizadas para enfatizar ideias, conferir maior expressividade ao texto, melhorar a sonoridade. São recursos linguísticos bastante úteis. Nossa língua, por ser muito rica, apresenta diversas figuras de linguagem.  Algumas delas são bem parecidas, tendo diferenças bem sutis entre elas.

Elas são categorizadas de acordo com seu objetivo principal. Você verá que algumas figuras de linguagem tem como objetivo aumentar a expressividade, outras em melhorar a sonoridade das frases, e assim por diante. De acordo com os objetivos, as figuras de linguagem são assim classificadas:

  • Figuras de palavras
  • Figuras de pensamento
  • Figuras de sintaxe (ou construção)
  • Figuras de som

Assim sendo, vamos analisar cada uma delas isoladamente. Abaixo você tem uma lista de figuras de linguagem organizadas em uma lista alfabética.

Aliteração
Anáfora
Antítese
Assíndeto
Elipse
Eufemismo
Gradação
Hipérbole
Ironia
Metáfora
Metonímia
Onomatopeia
Paradoxo
Pleonasmo
Sinestesia

Aliteração

Aliteração é caracterizada pela repetição de sons iguais ou parecidos. É uma figura de linguagem mais utilizada em poemas, embora possam aparecer também em crônicas e romances.

Para que serve? Em resumo, o objetivo é fazer com que as palavras soem melhor. Torna as frases mais bonitas, especialmente em poemas. Melhorar a sonoridade das frases ou versos é a tarefa básica da aliteração.

Veja um exemplo de aliteração no meu poema “Condensa Esperança“. Atenção às frases em itálico, e como as palavras soam parecidas:

A seiva de tua voz

Colhe pele, corre peito

Um céu suspenso e refeito

Derramando esperanças com teu nome

Forma ganhos, ganha forma

Ganha plástica um céu de anil

Teu sorriso estendido

Sua o beijo, beija o riso

És raiar do sol em menina

O doce som em minha sina.

Veja, por exemplo, o último verso. As palavras “doce”, “som” e “sina” soam parecidas. E esta sonoridade está presente em outros versos, conforme você pode ver acima.

Anáfora

A anáfora não é muito comentada. Parece até nome de cidade. Anáfora é uma figura de repetição.  Você vai ver a anáfora quando ler textos onde, no início das frases ou dos versos, são usadas as mesmas palavras ou expressões. De modo geral, elas são bem mais comuns em poemas. E embora se apresentem como repetições em inícios de frases ou versos, também podem aparecer repetidas no meio ou final.

Inclusive, se formos olhar a etimologia ou origem da palavra “anáfora”, veremos claramente este significado. Afinal, o prefixo “ana” significa entre outras coisas “repetição”.

Para que serve? Basicamente para enfatizar uma ideia.

Quer um exemplo de anáfora? Veja um trecho do poema Pequenina Imensidão, de minha autoria:

Teria feito das trevas, luz
Teria reinventado faces e feitos
Dos desertos, um mar teria feito
Composto rimas de desafetos
Reposto ordem no indiscreto
Teria feito o não desprezar
Porque teria te ensinado a amar

Veja, neste exemplo, que utilizei diversas vezes a expressão “teria feito”, como uma forma de enfatizar as coisas que teria feito tão somente tivesse tido a oportunidade. Em um momento, no terceiro verso, ela aparece no final do verso. Este é um exemplo de anáfora.

Antítese

Ao analisar a antítese, preste atenção no prefixo “anti” que quer dizer “contra, oposto”. Portanto, a figura de linguagem Antítese significa palavras ou expressões que apresentam um sentido oposto. Neste caso, estas palavras com sentidos opostos são apresentadas juntas, ok?

Para que serve? Em resumo, para dar uma maior expressividade ao que está sendo transmitido.

A antítese está presente de forma constante no texto de minha autoria Este É O Fim:

Ao cair da noite, caem esmaltes dos meus olhos, e vejo o sereno límpido obscurecer meu encanto.

Note que a expressão “sereno límpido” contrasta com “obscurecer”. O uso de “límpido”, como contraste, foi aqui usado para enfatizar o poder do “sereno” em obscurecer, ofuscar. Além disso, lembre-se que mesmo no cotidiano utilizamos esta figura de linguagem. Por exemplo, quando você diz: “Faça chuva ou faça sol, vou realizar tal coisa”. Aqui o contraste entre chuva e sol destaca sua determinação de fazer algo, independentemente do que aconteça.

Assíndeto

Literalmente, assíndeto significa “ausência de ligação”. Na prática, significa a ausência de conectivos entre palavras e orações. Você lembra o que é um conectivo? Conectivos são aquelas palavras que interligam outras palavras.  Portanto, agem como argamassa interligando tijolos. Note que a palavra “portanto” usada na frase anterior é um conectivo, interligando as duas frases.

Bem, o assíndeto nada mais é do que excluir a necessidade dos conectivos. Simples, assim.

Mas, para que servem? Para ajudar-nos a focar na ideia principal que a frase quer transmitir. A exclusão dos conectivos serve a este objetivo.

Quer ver na prática como isso acontece? Veja o exemplo a seguir, extraído do meu romance A Lenda de King Jeremy (que está disponível para download gratuito):

Esperas intermináveis que castigavam seu corpo nu. Esperas que o deixavam cada vez mais louco, mais perto do precipício. Sua espera, sua cova, seu final. Cobria-lhe o manto da decepção.

Note que usei a expressão “sua espera, sua cova, seu final”. Não há conectivos. O motivo é enfatizar como a espera da personagem tinha um efeito destruidor sobre ela.

Elipse

Elipse, é a omissão de uma palavra dentro de uma oração, quando está subentendida seu uso. Ou seja, você não precisa ler a palavra para saber que ela poderia estar ali. O detalhe importante nessa história toda é que, embora esta palavra seja omitida, a compreensão da frase não fica prejudicada.

Para que serve? A elipse torna as frases mais simples, mantendo sua compreensão. Diminui a necessidade de especificar palavras que já estão subentendidas, mesmo que não sejam citadas.

Quer exemplos? Pense na última vez que alguém lhe perguntou que horas você chegou, e você respondeu: “Cheguei cedo, hoje”. Neste caso, você não precisou dizer “EU cheguei cedo, hoje”. Porém, o fato de omitir a palavra “eu” não prejudicou em nada a compreensão da frase, não é verdade?

Eu disse para você que a elipse não prejudica a compreensão da frase. E é exatamente por isso que, na maioria dos casos, a elipse é usada nos textos, mas não é percebida. Na verdade, se a elipse não fosse usada, os textos seriam mais cansativos. Veja este trecho da minha crônica O Sociopata:

Ele a recusou. Não por ser incapaz de se apaixonar. Não por ser insensível. Mas no seu mundo, sabia em que terreno pisar. Sabia onde havia pedras e onde havia precipícios.

Note que usei o pronome “ele” apenas no início do parágrafo. Depois, nas frases seguintes, não houve necessidade de expressar que estava me referindo a “ele”. Mas se você colocar o pronome em cada uma dessas vezes, convenhamos, vai ser uma chatice das grandes.

Eufemismo

Usar de eufemismo significa utilizar uma palavra no lugar de outra com o objetivo de suavizar uma declaração. Pode-se dizer que significa se expressar com mais sutileza. A pessoa pode ter diversos motivos para isso, incluindo éticos, religiosos ou simplesmente emocionais.

Para que serve? Conforme destacado, seu objetivo é suavizar uma declaração. Faz-se isso para evitar que o leitor ou ouvinte fique chocado ou se ofenda com a declaração.

Por exemplo, muitos usam a expressão que uma menina “já é mocinha” quando, na verdade, se quer dizer que ela menstruou. Mas, precisamos concordar que dizer que a jovenzinha da família menstruou durante uma conversa, não seria nada gentil. Ainda bem que temos os eufemismos.

Gradação

A figura de linguagem gradação acontece quando com uma sequência hierárquica de termos é apresentada na frase. Está relacionada à enumeração. Os termos são apresentados na frase de forma gradativa, e é daí que se origina o nome gradação.

Para que serve? Enfatizar o que está sendo realizado empregando nele uma sequência, como um ritmo crescente até que se atinja o grau máximo. Desta forma, é mais fácil do leitor se envolver com a sequência de ações, por exemplo.

A gradação pode ser vista no conto Camila Helena:

Quando ela se recurva, meu corpo paralisa… Alguns grãos de farinha na ponta do seu nariz. Chego a esboçar um movimento. Tocar o nariz dela. Tirar-lhe a farinha. Tirar-lhe o pó. E aquela solidão que se esconde naqueles olhos esfomeados.

Veja que é apresentada uma sequência de ações que levam a um clímax: tocar o nariz dela, tirar a farinha, tirar o pó e, por fim (o grande clímax), tirar dela a solidão.

Hipérbole

Hipérbole é o exagero. O prefixo “hiper” já deixa isso claro. Significa utilizar de forma proposital uma expressão exagerada.

Para que serve? Assim como grande parte das figuras de linguagem, a hipérbole ajuda a enfatizar uma ideia ou um sentimento. Ajuda a aumentar a expressividade daquele que transmite um pensamento.

Veja um exemplo utilizado na crônica D´Artagnan, o Filósofo e a Festa:

Sem sucesso diante de sua busca, estava para desistir quando uma garota se aproximou.

– Procurando alguma coisa?

Ele ficou duas horas tentando identificar de onde vinha a voz, chegando a procurar pela interlocutora na lâmpada, acima de sua cabeça.

A expressão “duas horas” é um nítido exagero, querendo dizer que ele demorou bem mais do que o normal para identificar de onde vinha a voz. Assim, a hipérbole é uma expressão que está além do real.

Ironia

A ironia é caracterizada por se dizer o oposto daquilo que desejaria dizer. Sua característica principal é o uso de um discreto humor, evidenciando que aquele que fala ou escreve não está sendo sincero. A ironia é percebida não somente através das palavras, mas também por meio do tom de voz. No entanto, a ironia é sutil, de modo que talvez não seja identificada de imediato. Combinados, estas características fazem com que uma pessoa ou situação sejam ridicularizadas

Para que serve? Pessoas utilizam a ironia para expressar seu desdém para com uma outra pessoa ou situação. A ironia que zomba também é conhecida como sarcasmo.

Exemplo: “Fala mais alto que na esquina ainda não conseguiram te ouvir“.

Metáfora

Figuras de Linguagem

Eis a metáfora. Este é o momento de lhe apresentar a integrante mais famosa da família das Figuras de Linguagem. Qual sua característica? A metáfora apresenta duas coisas diferentes como se fossem similares. Assim, fala-se de uma coisa como se tivesse as características de outra.

Importante destacar que, na metáfora, você não diz que algo é “como se fosse outra coisa”. Você diz que algo “é outra coisa“. Por exemplo, a expressão “Você é como uma pedra de diamantes” não é metáfora. Para ser metáfora, a expressão precisaria ser: “Você é uma pedra de diamantes”.

Veja isso também no trecho do texto Homem Cor de Lixo:

No espelho, os olhos não transmitiam nada. Nem o rosto. Nem porcaria nenhuma. Apenas uma névoa. Ele era a fétida névoa.

Percebeu que não se diz que o personagem era como uma fétida névoa, mas que ele era a fétida névoa? Bem, esta é a metáfora.

Metonímia

Já tomou seu comprimido de metonímia hoje? Não, zoeira. Apesar do nome, metonímia não é remédio. Essa figura de linguagem acontece quando a pessoa substitui uma palavra por outra similar. Note que esta substituição acontece por outra palavra que apresenta similaridade, ok?

Para que serve? O objetivo de utilizarmos metonímias é simplificarmos o que estamos dizendo. Muitas vezes conseguimos ser mais claros quando fazemos uso desta figura de linguagem.

Quer ver um exemplo? Alguma vez você já disse que realizou algo com muito suor? Quando dizemos isso, estamos usando metonímias, trocando a expressão “trabalho duro” por “suor”. Ou talvez já tenha ouvido dizer que o brasileiro lê pouco. Neste caso, a palavra “brasileiro” foi usada como sendo um indivíduo mas, na verdade, representando uma grande parcela da população. Esta substituição é o recurso da língua que chamamos de metonímia.

Onomatopeia

Onomatopeia é a formação de palavras em um texto que procuram reproduzir sons. Sempre que você ler uma palavra que está tentando reproduzir um som, um barulho ou um ruído, você estará diante de uma onomatopeia. Isto inclui os sons produzidos pelos animais.

Quando um autor utiliza onomatopeia, é possível que ele “crie” novas palavras. Isto porque a palavra que reproduz o ruído ou barulho, tecnicamente, não existe. Por isso, será necessário que o autor crie a palavra. Algumas são bem conhecidas como o latido de um cachorro (au-au). Mas como você representaria o barulho de um smartphone caindo de quina no chão? Ou qual deve ser o som de alguém bufando depois de ficar três horas estudando sobre figuras de linguagem?

No texto, Coelho Efervescente inventei um som produzido por uma raposa faminta. Depois confira lá na crônica o som que ela faz neste estado (ou pelo menos, que eu acho que ela faz).

Paradoxo

O que é paradoxo? Certa vez, ao falar sobre o movimento luseriano no artigo Quem Disse Que Quero Ser Pop, escrevi neste site:

“Não construímos nada, efetivamente. Mas construímos o tudo também. Paradoxo insistente”.

Se não construímos nada, como posso dizer que construímos tudo? Bem, esta é a essência do paradoxo como figura de linguagem. Ela encerra em si expressões contraditórias em um mesmo contexto. Desta forma, é algo que foge à lógica. Como citado no exemplo acima, não parece lógico construir nada e tudo ao mesmo tempo.

Para que serve? Muito útil para aumentar a expressividade. De modo geral, é utilizada para expressar ironia e sarcasmo.

Pleonasmo

Pleonasmo é uma figura de linguagem muito utilizada em nosso dia a dia, e na literatura.  Ela é caracterizada pela repetição e redundância. Pode acontecer em duas formas:

  • Pleonasmo literário: repetição de uma ideia visando intensificar a compreensão do ouvinte ou leitor. Também tem o objetivo de estimular os sentimentos. Por exemplo, no poema Tardo Toque eu uso o verso “Confesso-te o amor com que te amo“.
  • Pleonasmo vicioso: neste caso, a repetição da ideia é supérflua, desnecessária. Seu uso torna-se até cômico. São os famosos “subir pra cima”, “entrar para dentro”, “sair para fora”, etc.

Para que serve? Como visto, o pleonasmo literário visa intensificar uma ideia. Com ele, você garante que a pessoa a quem se dirige compreenderá a intensidade dos seus pensamentos e sentimentos. O pleonasmo vicioso só serve para passar vergonha na frente dos outros.

Sinestesia

A sinestesia é uma figura de linguagem utilizada para combinar nossos diferentes sentidos (audição, olfato, paladar, tato e visão) em um só. A característica de um sentido é assim atribuída a outro. São diferentes planos sensoriais devidamente relacionados.

Para que serve? Como a maioria das figuras de linguagem, a sinestesia também tem como objetivo aumentar a expressividade do que se diz ou escreve. Por este motivo, é bastante utilizada como recurso linguístico nos poemas.

Eu mesmo utilizo este recurso com certa frequência. Você pode vê-lo, por exemplo, no poema Cala-me:

Teu tom de voz
Um som a sós
Que me cerca
Me abraça

Percebeu como a “voz” é apresentada neste poema como sendo capaz de abraçar? Isto é sinestesia.

Concluindo o Assunto Figuras de Linguagem

E então, o que achou? Consegue ter uma visão mais clara do que está envolvido nas Figuras de Linguagem? Algumas são meio complicadinhas, mas a maioria é bem fácil de identificar. A verdade é que usamos este recurso linguístico todos os dias, mas nem nos damos conta.

Se quiser aproveitar este artigo em trabalhos escolares ou acadêmicos, fique a vontade em utilizá-los. Todos os textos citados acima (e em todo o site Literatura Corrosiva) são de minha autoria. Para fazer referência à fonte em seus trabalhos escolares, utilize os dados abaixo:

MARTINZ, Juliano. “Figuras de Linguagem – Resumo e Exemplos”; Literatura Corrosiva.

Disponível em <http://corrosiva.com.br/literatura/figuras-de-linguagem-resumo-exemplos>. Acesso em.. [coloque a data do seu acesso]

1 Comment

  1. Senira Rodrigues Ramalho

    at

    Esclarecedor.

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