Intangível e sofrível. Espinhento e mórbido. Era o medo, impiedoso medo das pessoas. Fustigava-lhe pele e órgãos.
O pânico que se formara desde criança. Zombarias, dedos apontados sob hinos de risadas causaram uma rachadura em sua alma. Deixou trilhas sombrias nos caminhos por onde seus pés vacilantes já ousaram repousar.
A crosta temerária, o interior evasivo, incerto, confuso. Psiquiatras já haviam tentado em vão cavar fundo e descobrir o verdadeiro homem, outrora existente, hoje eclipsado.
Tudo em vão. Um vão em tudo.
Até o dia em que descobriu, por si mesmo, uma forma de vencer o medo.
Mas nada que dissesse respeito aos conselhos de enfrentar seus medos. Pelo contrário, isolou-se.
Até onde se sabe, vive no meio da mata. Mas as pessoas, ingênuas como sempre, mal sabem que ele deitou-se cálido ao chão. Lançou abaixo suas mutantes raízes, penetrando fundo suas zonas pilíferas e coifas na terra fria.
E hoje cresce, com incrível formosura e graciosidade, resplandecendo confiança em cada folha e flor que se banha ao orvalho.
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Gostei desse texto, me faz lembrar que ser homem é estar sozinho e ser abandonado a própria sorte. Ser homem é buscar muito mais em si mesmo do que fora de si para superar a si e ao ambiente antes que seja destroçado e aniquilado por dentro e por fora.