O dedo clica antes que ele pense. Antes que queira. Antes que entenda.
O feed desce como um carrossel quebrado, girando sem parar. Imagens desbotadas, frases motivacionais, alguém vendendo um curso para mudar sua vida em sete passos. A cabeça pesa. Os olhos coçam. Mas o dedo continua.
Ali, um casal sorri em uma praia paradisíaca. A legenda diz: “Viva o presente”. Mas ninguém ali está presente. O filtro ajusta a cor do céu, os sorrisos parecem desenhados. Ele sente que já viu essa mesma foto antes, talvez com outras pessoas, outros sorrisos.
O próximo vídeo é um homem berrando sobre produtividade. “Acorde às cinco da manhã! Leia cem páginas por dia! Seja a sua melhor versão!” Mas já é tarde. Tarde demais para acordar cedo.
O dedo continua.
Um desconhecido posta um prato de comida caro. Outro exibe músculos na academia. Uma garota dança ao som de uma música que ele nunca ouviu, mas sabe que já está na moda.
Em seguida, um rosto familiar: uma ex-colega de escola. A legenda diz: “Nunca estive tão feliz!” Ele se lembra de que ela chorava no banheiro, odiava o próprio reflexo. Talvez tenha mudado. Ou talvez seja só mais um filtro.
O dedo hesita.
Respira fundo.
Fecha o aplicativo.
Dois segundos depois, a tela acende. Uma nova notificação.
O dedo clica antes que ele pense. Antes que queira. Antes que entenda.
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