Corrosiva

Crônicas corrosivas e gestos de amor

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QUEM É O MAIOR ANTI-HERÓI DO CINEMA?

A etimologia pode trair a concepção. Mas acredite: anti-heróis não são vilões. São diferentes em dois aspectos. Primeiramente, na própria definição. Numa definição tosca e rasteira, anti-herói é um herói cheio de defeitos. Mas, em segundo, e mais importante aspecto, vilões são personagens extremamente desinteressantes. Sempre recheados das mesmas características: são explosivos, previsíveis, patéticos. A mesma velha e desgastada expressão, a mesma sede de violência, a mesmice do mesmo. Por outro lado, os anti-heróis não estão tão inclinados a soberba. Aproximam-se mais da realidade. E isso é justamente o que os diferencia dos heróis, também. Possuem humor (negro), são irônicos, inteligentes, irritantes. Estão revestidos do oposto ao axiológico positivo: são imprevisíveis por não serem dotado da patética pureza perfeita dos heróis. São eles. São eu e você.

Ao pensar no grande nome entre os anti-heróis do cinema, confusão a vista (o que qualquer um poderia prever). Mas um exclusivo nome tende a desmerecer devidos créditos. Por isso, em minha tosca e infundada opinião, satisfaço minha paixão pelo cinema poético-realista, destacando dois nomes que devem estar no topo de qualquer rol dos anti-heróis do cinema.

TRAVIS BICKLE:

Frustrado, alienado, insone, obcecado, perturbado, egoísta, irônico, bruto, sensível, solitário, paranoico, deprimido, iludido por tentar fazer alguma diferença. Quer mais detalhes?

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Estranho no Ninho Murphy

RANDLE PATRICK McMURPHY:

Visceral, Randle Patrick McMurphy, o criminoso que se faz passar por louco, torna-se, no final das contas, o mais humano no decadente e agressivo manicômio.

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Será que fui injusto? Será que isso me torna um anti-herói?

POEMA SOBRE SIMBIOSE

Poema Sobre Simbiose

Ela lá e me sinto cá

Torpe, tolhido

A fumaça que me agride

A neblina que retarda

Uma vida desfalecida

Entre sombras do passado

Repassando horas vigílias

Execrando pobres poemas

Entre velas e eras

Paralisado, num vício de teus olhos

Restam-me ecos

Restam-lhe sonhos

O suor serpenteando seu corpo

Calejando tez e cílios

Redecorando memórias

Sob minha pele

Mas fora do alcance de minhas mãos

Apenas nos perdemos

E tanto nos perdemos

Nesta frágil simbiose.

OS ANTISSOCIAIS II

Os Antissociais

– E aí?

– E aí?

– Fazendo?

– Nada.

– Também.

– Vai sair?

– Nem. Cansado pra burro.

– O que fez?

– Ah, sei lá. Fiz nada, não.

– Então tá cansado do quê?

– Sei lá. Dessa paradeira, deve ser.

– Então por que não sai?

– Porque tô cansado.

– Então sai que descansa.

– Ninguém sai pra descansar.

– Então fica em casa, caramba.

– Pô, mas isso cansa pra burro.

– Cara, tu fala umas coisas nada a ver.

– Tipo…?

– Tá cansado, mas não fez nada.

– E isso não cansa?

– Então descansa.

– E o que tô fazendo?

– Então não reclama.

– Quem tá reclamando?

– Tá, deixa quieto.

– E você? Vai sair?

– Nem.

– Por que?

– Ah, você me cansou.

Crédito Foto: Bobbi Dombrowski

POEMA SOBRE ECOS

Poema Sobre Ecos

Infame a solidão
Em fama opressão
O eco onipresente
Em restos, desrestos
Perene, mutila
Rompe sôfrego
Caindo trôpego
Corta elos
Os mesmos elos
Que mantém livres
Nossas almas.

 

ETOGENIA

Quando a intensidade lhe cobriu os olhos naquele novo formato, deixou-se guiar pela profusão de novos sonhos. Era uma experiência nova, uma aquisição há muito esperada, novos parágrafos acrescidos à etogenia. Por entre a tensão e a alegria de rever os contornos que lhe emudeciam os olhos, descobriu-se adepto do que um dia, já desistira de esperar: o verdadeiro amor.

LADY JANE

O coração da jovem parecia tempestuoso, cálido ao toque das palavras dele, quando ele a chamava pelo nome. Não eram palavras especiais, mas se tornavam especiais quando cruzavam a fronteira do seu órgão muscular, desfilando por entre aurículas e ventrículos. Chamejava com a consistência inconstante daquele ritmado destoar que só deste gosto provaram os que amaram ao menos uma vez.

E com a mesma aguçadura com que lhe infligiam as palavras tocantes, foi-lhe arrancado o ar quando ouviu, da mesma boca, a boca dele, o amor por outra mulher. Sob o rugir tempestuoso das palavras em seus ouvidos, se confundiram a acidez e o destempero. Inerte, calou-se. Calou fundo a verdade que esfriou seu calor. Por ora, fugiu-lhe a vida. O sangue achou que não precisava mais correr. O ar sossegou. O pulmão aquietou. O corpo abjurou.

Lady JaneCaminhou rumo ao nada, embora, estivesse estagnada. A inércia a conduzia. Diluía. Fragmentos de mulher aqui, ali, acolá. Caminhando ao nada, ao nada chegou. E como nada encontrou, continuou. Ainda hoje, vagueia pelas estradas, a procura do seu lugar. Caminha por estradas, pontes, desertos, fronteiras. Mas quem a observa ao longe percebe, pobre mulher, ainda continua parada no mesmo lugar.

Sem Semanas

Assentada, acentuou-se um desejo. Parecia-lhe suave, mas era grave, o acento. Gravidade, queda livre, livre aceitação. Sentiu-se só. Não solidão entre poeira e pó. Não o senso de descontentamento, insensatez no olhar, na tez. Desta vez, apenas uma lacuna na alma, fuga em calma.

Com a face refeita, reconstruída com rímeis e semblantes, mergulhou na noite, tomada pelo cetim que a envolvia, ausente de responsabilidades, contente com possibilidades.

Era a acentuação básica de textos reflexivos, versos ainda esperando encontrar suas rimas. Abastada com pensamentos que lhe roubavam a secura da pele, regavam-lhe certezas e poesias de um futuro de outrora onde ela, sempre ela, assentava-se sobre o trono onde você ousou, certo dia, ali estar.

SEM TEMA

O vento lhe tocou os cabelos no mesmo instante em que percebeu que o dia havia nascido. Mas qual dia? Poderia encarar novos céus, mas se derramava litros de tinta sobre seus olhos cansados, ora desnudos, ora velados. Preferiria mergulhar em crônicas pequenas, em vez de encarar a realidade cansativa que lhe rasgava sonhos.

Contemplando a solidão travestida de noite, sorria-lhe a vizinhança disforme entre fumaças e sorrisos embriagados. Os rostos lhe pareciam distante. As peles se comutavam entre luzes e ausências, alternadamente. E os muros da cidade se apossavam das almas ansiosas.

No mesmo instante em que percebeu que o dia havia nascido, o vento lhe tocou os cabelos.

Sem Tema

LISTANDO CHARLIE

Charlie Sheen

“O amor é a gasolina da vida… custa caro, acaba rápido e pode ser substituído pelo álcool”.

Apenas uma dentre as pérolas arrebatadas do personagem Charlie Harper, personagem vivido por Charlie Sheen, no seriado Two and a Half Man. Suas declarações serpenteiam a internet com um fulgor invejável, e sempre são elencadas pelos internautas como estando entre as melhores da televisão e do cinema (há quem contrarie, com o mesmo fulgor).  Pelo menos, assim era. Afinal, Charlie Sheen acaba de ser demitido pela Warner. O polêmico e, agora, desempregado ator, recebia o maior salário da TV americana, algo que girava em torno de dois milhões de dólares por episódio.

Mas, a despeito do sugestivo nome de seu ex-personagem, o Harper, há outros personagens que contribuíram tanto (ou mais) para o posicionamento de Charlie (o Sheen), entre os grandes nomes do cinema. Justa ou não, lista-se mais ou menos assim:

Curtindo a Vida Adoidado

3-) Curtindo a Vida Adoidado (1986) – Não chega a ser exatamente um papel, no pleno sentido da palavra. Seria, digamos, uma participação especial. O personagem de Charlie é um jovem mulherengo, drogado, e que está preso (parecia até uma profecia do que aguardava a vida pessoal do ator). Sua aparição (e atuação) nesse clássico de John Hughes é emblemática.

Wall Street - Filme

2-) Wall Street (1987) – Papel principal, como Bud Fox, um jovem corretor da bolsa, atraído ao mundo da espionagem empresarial, abortando toda ética e moral, na busca de riqueza.

Platoon - Filme

1-) Platoon (1986) – A obra-prima de Oliver Stone, tem Charlie Sheen no papel do recruta Chris Taylor que, após largar a faculdade, se vê lançado na insanidade e violência da guerra do Vietnã.

TEUS OLHOS

Ela é a amplitude em estado fundamental. O calor para um coração estendido sobre o gelo. Ela se camufla em poesia. Quase sempre. Mas nem sempre. Às vezes ela escapa das páginas. Como se o papel não a pudesse conter. Ele não a contém. A poesia não a mantém. Ela excede. Se espalha, se esparrama. Transborda. Ignora as bordas. Borda-se com a primavera. Enche o vazio com sua presença. Ela ama. Importa-se. Esbraveja. E chora. Faz-se humana. Calor-mulher. Ela pode te comover. Ela pode te enlouquecer. Te solidifica, te irrita, te edifica. Ela dança e o planeta acompanha. E quando te encara com seus olhos refulgentes, ela te hipnotiza. Não a encare. Ela vai te sedar. E você vai agir como louco. Uma personagem marionete de crônicas narrativas. Vai tentar dizer não, mas vai dizer sim. Vai tentar fugir, mas vai ceder. Não ouse ignorar este conselho. Não desatente este apelo. O aviso está dado: ELA VAI TE SEDAR!!!

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