Ela precisava de um eco. Um grito que afligisse seus medos. Uma volta ao passado para recompor peças de um vitral que se despedaçara em seu vazio. Nas noites de insônia e famigerados pesadelos, um tombar seco, uma queda livre. Jogava-se entre rumores e passados desfeitos, uma carente investigação.
Por onde andara? Onde desenhara seus erros com pedras de giz? Pareceria fácil reconstruir a história se o vento a levasse de volta ao começo. Se pudesse reescrever seus feitos em textos reflexivos. Mas seria realmente? Conseguiria atribuir rimas a poemas jorrados de buracos negros? Conseguiria reescrever sua história, com pinceladas de humor e final feliz? No fundo, acreditava que se estivesse lá, no passado crispado de tédio e sal, erraria tudo exatamente igual. As chamas arderiam nas mesmas danças noturnas, avergalhadas pelo intenso mar. Tentaria, talvez, mas não seguraria a areia que lhe romperia vãos nos dedos e ganhariam a queda onde ela mesma residia. Esta era sua sina, seus romances e bailes perdidos em madrugadas incertas. De bem ou mal, jamais poderiam julgá-la: ela era tão somente o que escolheu ser.
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Desenhar erros com pedra de giz é o mesmo que debuxar acertos.
Tanto faz!
Apagam-se com o tempo e não servem de bússola a ninguém.
Não se pode escolher ser. Podxe-se escolher não ser ou nenhuma coisa e nem outra. A escolha nada cria. O que cria é a mudança. O impacto. A transformação. O que não se muda é a vocação, a tendência, a busca pelo
fim e a inarredável manifestação de sua própria natureza.
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Não é a primeira vez que digo isso, e apelarei para a repetitividade: seu comentário consegue ser mais poético e completo que o post. Obrigado pela visita, Mauro.