Você sabe que tudo vai dar certo. Até que o paraquedas não abre, e tenta te convencer do contrário. E em queda livre, é quase impossível separar devaneios utópicos de realidades práticas

A aflição daquele livre cair
E o paraquedas, displicentemente,
Agora fatalmente, recusando-se a abrir
A névoa dos olhos viscosos
Marejados na secura de assustadoras verdades
Enquanto a mente vomita mentiras
De que a queda não é livre, mas encarcerada
Nos olhos de meu amor que ainda hei de rever.

O revirar do estômago como um liquidificador
E a terra inóspita se aproximando
E este girar, e girar, e girar descontrolado
Esmaecendo tez e pele
Treponemas e células mortas
Enquanto mergulho em densas moléculas
Incapazes de retrair a velocidade sempre crescente.

E quando o corpo toca o chão
É a cabeça que se ergue do travesseiro
Encharcado de pânico, pesadelos e suor
E custoso, assombroso, contagioso
Voltando a dormir, volto às alturas
Esperando que, em uma queda renovada,
O paraquedas possa enfim se abrir.