Corrosiva

Crônicas corrosivas e gestos de amor

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Seu idiota favorito

Você me contou como sempre fui seu idiota favorito
A criança de semblante estagnado
Um certo erro, um erro acertado
Uma lembrança a ser esquecida
Frases desconexas
Que jamais formam uma oração.

Pareceu-lhe mais fácil se apresentar em outros circos
E conquistar a escuridão de sonhos impossíveis
E cruéis desfechos
Palavras lhe soaram dispensáveis
Apelos lhe pareceram engraçados
Toda essa sina de bem cuidar
Cansou sua mente aventureira
E seu desejo de romper grilhões
E conhecer um mundo distante
Que não fosse tão covarde quanto o meu.

Hoje te vejo se arrastando
Por entre entulhos neste velho chão
Respirando a discórdia, se entorpecendo com solidão
Fitando as paredes brancas do seu quarto
Olhos vidrados, pequenos remorsos em coesão –
E será que valeu a pena negociar seus sonhos
Por uma alegria passageira
E fantasmas eternos?

E hoje, apenas te vejo tropeçando
Desajustada, neste mesmo velho chão
Chorando apelos, fazendo promessas, implorando migalhas
Acredito que o que perdi me perdeu
E o que me perdeu jamais poderia me fazer encontrar
A suavidade de novamente estar em pé
E ser para alguém que nem sei quem é
Mais uma vez, o seu idiota favorito.

DIÁLOGOS FILOALCOÓLICOS DE LUCKÁ E MESSINA – II

Tirinha engraçada

Tempo

Filtrava-se como se pudesse se esquivar da fúria do Tempo. A fúria das horas. A fúria que aflora nas horas de solidão. Era inócua aos seus medos. Mas determinada diante dos seus objetivos.

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Infinito passivo

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DIÁLOGOS FILOALCOÓLICOS DE LUCKÁ E MESSINA – I

Tirinhas Engraçadas

Sonho é pesadelo

Era um homem sem sonhos. Noites desprovidas de calor, paixão, intensidade. Apenas um  dormir descolorido,  descompassado. Durante o dia, o Nada lhe acariciava. Como uma companhia entediante que não se afasta.  Caminhava horas e horas pelo asfalto, o calor retumbando sua testa engelhada. Esperava a noite, esperanças. Esperava sonhar. Acreditar em elementos desgovernados numa mente livre e criativa. Acreditar ser outra pessoa,  outros planos,  outros toques. Mas, no dia seguinte, apenas o nada. Nenhuma lembrança. Nenhum sonho.

Certo dia, conheceu a garota que só tinha pesadelos. Rapaz sem sonhos conhece menina de sonhos aflitivos. Ele, caminhando distante. Ela, apavorada. Como se tudo o que se movesse fosse ganhar a forma do monstro do último pesadelo, noite passada.

Do contato, nasceu a simpatia. Desta, a dependência. Desta última, o amor. Ele lhe acordava na hora dos pesadelos mais terríveis. Ela preenchia as noites dele com o relato do que sonhara. Noites amenizadas para ela, noites intensificadas para ele.

Eram  caminhos  diferentes  que  se  cruzavam,  e  se alimentavam. Tentavam manter-se, por instantes eternos, na mesma direção. E até poderiam caminhar pela mesma estrada,  mas estavam cientes de que nunca pegariam carona no mesmo caminhão.

Ser você

Quando passei em frente ao teu quarto, ouvi você chorando. Parecia um sussurro. Um pedido de socorro. Como  se tivesse percebido minha presença. Como se pudesse ouvir meus passos lentos se arrastando pelo chão tão empoeirado. Como se eu pudesse fazer algo por você.

Eu estava por aí, tentando te  encontrar em outros rostos. Uma face. Um sorriso. Tua boca nos meus lábios.  Teus cílios ritmando meu piscar. Como se fosse possível unir as faces numa só. Uma só face. Fácies. Fácil.

Quando acordei, estava no meio do nada. E do nada, achei que podia te ver. Te completar. Te conceber. Como  se fosse possível te enxergar no meio da solidão, no meio da noite, no meio de mim. Parece tão simples quando a gente desenha tudo no papel. A gente apaga aquilo que tem medo. Alinha o desarranjo. Combina terra e céu.

Quando passei em frente ao teu quarto, ouvi você chorando. E eu também chorei. Como se eu pudesse sentir sua intensidade. Como se eu pudesse sentir a sua falta.

Como se eu pudesse ser você.


Era uma vez

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