Corrosiva

Crônicas corrosivas e gestos de amor

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Garota brasa

No elevador.

– Bom dia!

– “Bom dia” por quê?

– Só estou te desejando um bom dia.

– Por quê?

– Oras, eu não posso te dar bom dia?

– E eu não posso perguntar porque está falando isso pra mim?

– Simplesmente porque eu quero que você tenha um bom dia.

– Por quê? O que eu te fiz?

– Como assim?

– Você está me devendo alguma coisa?

– As pessoas costumam dar bom dia para outras, querida.

– Ah é? Eu não faço isso. Pelo menos, não com estranhos.

– Mas eu não sou estranha.

– Como não? A gente nem se conhece.

– Pensei que trabalhássemos no mesmo prédio. A gente se vê quase todo dia.

– Mas isso não nos torna amigas.

– E só amigos dão bom dia?

– No mínimo. Eu vou dar bom dia pra quem não conheço? Vai que é um psicopata, um assassino. Eu vou lá querer que ele tenha um bom dia? Eu quero mais é que se exploda.

– Puxa, valeu. Quer que eu me exploda também?

– Se continuar me incomodando quem vai explodir sou eu.

– Te incomodando? Mas eu só disse bom dia.

– E você fala “só”? Só falta agora querer me dar beijinho, também. Odeio que me toquem, já vou avisando.

– Ah, mas pode deixar, sua azeda. De hoje em diante nem te cumprimento mais.

– Azeda, eu? Você que me vem com essa cara de sonsa, e com esse bomdiazinho meloso e falso, e eu sou azeda?

– Falso?

– E digo mais: por não me cumprimentar, você vai me fazer um grande favor. Até porque já tô por aqui com essa sua vozinha de taquara rachada.

– Ah, sua… sua…

– E aproveitando: esse seu perfuminho de rodoviária me dá náuseas, garota. Experimente ficar só no sabão de coco que eu garanto que vai melhorar.

– Escuta aqui…

– Se não percebeu, querida, este é o seu andar. Até logo.

A senhora educada, agora profundamente irritada, sai do elevador batendo os pés, furiosa com os comentários da “garota ácida”. No mesmo andar, um elegante rapaz entra no elevador e se dirige à garota:

– Eita… Bom dia! O que deu nessa daí?

– Ah, acordou azeda, só pode. – Após uma breve pausa, arrematou: – A propósito, “bom dia” por quê?

DIÁLOGOS FILOALCOÓLICOS DE LUCKÁ E MESSINA – VI

Tirinhas Engraçadas

DIÁLOGOS FILOALCOÓLICOS DE LUCKÁ E MESSINA – V

Tirinhas Engraçadas

Lacuna

Veemente.

Árdua.

Ela queria poder dançar sob o luar, como se pudesse ser a estrela principal, no palco da noite. Queria flutuar, e se deixar partir, como se soubesse que sua falta amarguraria corações. Queria poder gravar-se no papel. Rimada. Eternizada. Como se seu calor pudesse abrasar a ausência de sua voz alada. Como se a cada nova rima, ela pudesse ser lembrada.

Árdua

Veemente.

O Milagre

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DIÁLOGOS FILOALCOÓLICOS DE LUCKÁ E MESSINA – IV

Tirinha engraçada

FRASES CINEMATOGRÁFICAS

Tarefa possivelmente impossível. Como a teimosia é inimiga da impossibilidade, faço-me teimoso, e elejo, algumas das melhores frases proferidas na telinha.

“Será que não vou me libertar dos pecados e do perfeccionismo? Eu te digo: evolua, mesmo se você desmoronar por dentro”

(CLUBE DA LUTA)

 

 

 

 

“- Ele é sempre nervoso assim?
– Não, só quando ele tem que ser o Fuhrer”

(A QUEDA)

 

 

 

 

“O dia dos namorados foi inventado pelas indústrias de cartões para deixar as pessoas tristes”

(BRILHO ETERNO DE UMA MENTE SEM LEMBRANÇA)

 

 

 

 

 

“Todo coração é uma célula revolucionária”

(EDUKATORS)

 

 

 

 

 

“Um só, vagueia. Dois juntos, vão a algum lugar”

(UM CORPO QUE CAI)

 

 

 

 

 

“O problema das histórias que não aconteceram, não é o que a gente inventa, mas as partes que a gente esquece de inventar”

(MEU TIO MATOU UM CARA)

 

 

 

Loucura e Derrotismo

Loucura e Derrotismo - Arte: Brian Alexander

Mais um dia na vida do coelho abandonado

A caça se entrega, o corpo traspassado

Minhas algemas, minha poesia perdida

Versos rimados, unidos pela melancolia

Espalhados no caos

Velas no vento tirano

Palavras duras

Verdade nua e crua

Pane, pânico, seu coração engaiolado

Preso a outro mundo

Distante, separado

E a mim restando peças num quebra-cabeça

Peças que não se encaixam

Que não se criam

Que me deixam com a repetitiva sensação

De ser apenas mais um marcado

A marca repetitiva

Mais uma peça sem encaixe

Mais uma sem cor, sem resposta, sem perdão

Sempre buscando amor, liberdade

O calor, o complemento, a razão

E um pouco do tudo vigente até então

Mas só há naqueles restos

Traços da loucura e derrotismo

E engano a mim mesmo

Tentando encontrar um padrão

Enquanto restos são tão descartáveis

Quanto o copo plástico em tuas mãos.

Diário de Manolo DDA II

Prezado Diário,

Estou exalando alegria. Hoje será um dia especial. Tenho um encontro à noite. Lembra-se daquela garota que mencionei? Algumas páginas atrás? O nome dela… o nome dela… Peraí, vou ver. Não achei, droga. Mas tenho certeza que está aqui em algum lugar. Ou estaria no outro diário? Eu tenho outro diário? Claro que não. Ah, eu tenho um caderno de poesias. Isso! Eu escrevi versos e poemas para ela. E usei seu nome. É isso! Segura aí. Achei! Santo poema!! Coloquei o nome dela no título do poema. “SERENA COR DE PRIMAVERA”. Mas… o nome dela é Serena ou Primavera? Droga, por que eu complico as coisas? O que acha, Serena ou Primavera? Tá mais com cara de Serena, né?  Não conheço ninguém com nome de Primavera. Mas, se for pensar bem, não conheço ninguém com nome de Serena também. E agora, Diário? Como vou me encontrar com uma garota se esqueci a palavra mais bela que existe no dicionário dela, seu nome? Droga, começou a bater deprê. Vida vã! Vida inútil! Calma, calma, respire. Eu me viro. Você sempre se vira, Manolo. Só não posso deixar ela perceber que esqueci o nome dela. Isso não é difícil. Eu sou esperto para essas coisas. Sou sim. Faço assim:

Pego nas mãos dela, e digo “Primavera”. Se ela falar “oi”, sorrindo, é porque acertei. Se ela franzir o cenho e falar “Quê???”, aí emendo: “Teus olhos são da cor da primavera, minha Serena”. Eu sou um gênio, caro diário. Devia se orgulhar disso.

James Dean

A timidez renegada, cantada em versos e poemas da literatura corrosiva

Poemas Curtos - James Dean

Base insólita de tolos carentes
A timidez pode até mesmo te sufocar
Então, não ouça nada que o deixe deprimido
E nem pense em ouvir o tom triste de minha voz
Não cace seu paraíso perdido
Não destoe seu longo caminhar
Enquanto o medo ainda pode te encontrar
E quando todas as vozes anunciam
Teu renegado e fatídico dia
Nesta hora, você saberá
Que o mundo insano
Deu mais voltas do que deveria
Você saberá que as ondas eram falsas
Te levando para sonhos abalizados
Em insólitas maneiras de acreditar
Neste tolo e aparentemente invencível “jamais”.

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