A noite estava… A noite estava clara… A noite… A noite estava fria… A noite estava… (Não, a noite não).
O dia estava…
Oh, infame desinspiração. Ou uma anti-inspiração. Não importa se a palavra não existe. Quem se importa!? Quando a inspiração desaparece vale tudo para o escritor. Até inventar palavras novas: “Ele acordou um pouco compartivenado. Silhuetas tuscasneanas sondando sua bremice conspilativa. Perderia ineríssimas conturnas se ao menos pilhoasse as frangoteias”.
Era madrugada quando começou sua sina criativa: a hora dos escritores solitários… e desesperados. De companhia, uma xícara de café e a maldita coruja piando como uma maluca do lado de fora. Até o sol nascer, já havia xingado o computador, a coruja, seu cérebro, e sua mão por doer tanto quando socava a mesa. Mão de escritor não deveria doer, costumava pensar nessas horas. Só para registro.
Apelou para tudo. Antigas anotações, rock sessentista, Fellini, Lord Byron, uma volta no quarteirão, uma pedrada na coruja. Mas nada foi capaz de trazer a tona o escritor prolífero de outrora. Só lhe restava o marasmo. Infame marasmo.
Porém, lá fora, quando o desestimulante estraga prazeres Sol dava as caras, quem diria?, justamente neste momento, ele começou a sentir uma lufada de inspiração. Inspiração, sua linda! Ele abriu os braços e ofereceu-lhe o melhor sorriso que reservara durante suas tantas décadas. De repente, aquele mês ele tiraria o blog literário do poço de obscuridade, despejando seus atuais inquilinos (ratos e baratas).
Uma personagem loira surgiu em sua mente dançando uma valsa no salão quase vazio. O jornaleiro distraído mal perceberia o vulto manco passando ao seu lado, enquanto arrumava os jornais com a manchete: “Promotor dado como morto reaparece em hospício paulista”. O gato na soleira daria um pulo com o grito agonizante da loira no salão. E os leitores sequer desconfiariam que a solução do mistério estava todo o tempo na manchete do jornal daquela manhã…
Foi quando dona Marlene, a diarista, irrompeu pela casa, cantando algum sertanejo universitário, como se uma imensa plateia a estivesse esperando, ansiosa por desfrutar daquele seu maravilhoso talento em desafinar. E neste instante de tempo, a personagem loira desapareceu de sua mente. Até o gato sumiu com aquela porcaria entoada em ré maior. Toda a trama se esvaiu em segundos. E o jornal, a manchete, o promotor – o que eles tinham mesmo a ver com o crime?
– Bom dia – disse dona Marlene, arreganhando dezenas de dentes gigantescos e desalinhados em sua direção.
Ele balbuciou algo que nem exímios linguistas seriam capazes de compreender. Percebendo seu mau humor, ela desapareceu na cozinha, pé ante pé.
E resignado, ao escritor nada restava senão desligar o computador. Desligar a mente. E desistir da ressurreição literária.
Enquanto isso, as silhuetas tuscasneanas continuavam sondando sua bremice conspilativa. Ele seria capaz de perder ineríssimas conturnas se ao menos pilhoasse as frangoteias.
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Tenho pilhoado as frangotéias a muitos meses. Em breve, Amélio Rupestre pode não ser páreo para mim.
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Estou começando a trilhar estes caminhos poéticos e, lendo seus textos estou gostando. Uma pena (não a do poeta) que, nosso amigo aos elogios aqui deixados – Parabéns Cara!
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Amei o texto! É genial! E adorei também a brincadeira com o neologismo.
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Muito bom! Estou precisando de uma transpiração assim também… Abraço! Sucesso.
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Muito bom metamorfose