Corrosiva

Crônicas corrosivas e gestos de amor

Ano novo

“Feliz ano novo”, ele ouvira isso uma vida inteira. Entre estradas sinuosas e quedas abruptas, sempre tentava se renovar. Rastejava solitário e deixava seus restos por onde passava. E felicidade mesmo, esta andava rara.

Desde criança, as velhas felicitações de “feliz ano novo” sempre lhe trouxeram mau agouro. Reprovações no colégio, surras de colegas e bicicletas roubadas – a lista era longa.

Mesmo depois de adulto, nada mudara. Por exemplo, em certo ano, uma semana depois de ouvir a felicitação, fora abandonado pela noiva. Um mês depois, perdera o emprego.

Após tantos infortúnios, costumava dizer que só sorrira verdadeiramente quando era um bebê e sua mãe lhe fazia carinhosas cócegas.

Por isso, no início de cada novo ano, ele fugia das pessoas. Temia ouvir o “feliz ano novo”, a maldita frase que sempre carregava mau agouro e previsões de tragédias.

No último ano, no entanto, não pode evitar a ex-noiva em um encontro casual. A mesma, com ódio e mágoas aflorando pela pele, lançou-lhe uma praga:

– Espero que sofra. – Irônica, ainda arrematou: – Infeliz ano novo!

Naquele ano, ele encontrou o grande amor de sua vida, teve uma linda filha, foi promovido e sorriu verdadeiramente, como não fazia desde que recebia cócegas de sua mãe enquanto ainda era um pequeno bebê.

Instagram: Juliano Martinz

10 Comments

  1. Sueli

    at

    Que gostosa leitura! Vou compartilhar com meus estudantes 🙂

    • Juliano Martinz

      at

      Que legal, Sueli! Espero que eles gostem também!

  2. Maria Cleonir

    at

    linda sua crônicas!! Bravo!!!! Espero receber várias de muitas escrita por você, !!

  3. Maria Cristina Contrucci

    at

    Muito interessante! Sua crônica chegou ao meu e-mail de repente. Foi uma boa surpresa de fim de ano.

  4. Cilmar Machado

    at

    Crônica horrível e infeliz Ano Novo pra você!
    Quem sabe assim, a exemplo do sofrido personagem, você continue a nos brindar com suas deliciosas crônicas durante os 365 dias de 2023. Um abraço agradecido e amigo…

  5. Michelle

    at

    Muito boa sua crônica, parabéns!

  6. moacir pereira de souza

    at

    Brilhante sua crônica! Nela o inusitado surge, dando vida ao contaditório.

  7. Irene Baleroni

    at

    Olá! Como sempre, corrosiva, mas com carinho!

  8. Sérgio Almeida

    at

    Boa! Fiquei feliz ao ler! Precisa mais??

  9. Sandra Laurita

    at

    Bravo! Ótima Crônica, o caminho inverso!!! Aplausos, adorei.

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