Como dar uma identidade única a cada uma das personagens de seu livro? Textos envolventes pedem personagens bastante diferentes
Você cria duas personagens. Uma amável moça se relacionando com um rapaz neurótico. Personagens diferentes, hábitos e condutas distintas. Mas após escrever um romance, você o lê de novo, e de novo, e de novo. E então percebe algo aterrador, para seu total desespero: as personagens, apesar de completamente diferentes, estão soando exatamente iguais.
Embora seja compreensível que elas tenham a mesma voz, você precisa fugir disso, se há de escrever um romance impactante, que realmente leve seus leitores para um mundo de fantasia onde o fôlego de cada um deles é carinhosa ou impetuosamente tomado.
Assim, a pergunta começa a ecoar: como contornar este problema, como criar personagens com uma voz única, exclusiva, sem que uma seja a cópia mal definida de outra? Precisaremos de alguns métodos. São técnicas para escrever um livro e suas personagens. Alguns são fáceis de serem colocados em prática. Outros exigirão um pouco mais de dedicação. Mas são passos necessários. Essenciais, eu diria. Afinal, como se empolgar com uma história em que a amável moça soa da mesma forma que o seu neurótico par?
Ouça Como as Pessoas Costumam Conversar
Hora de sair do casulo, parceiro. Você pode ter associado o processo criativo com o seu quarto, seu notebook e um silêncio de afagar a alma. Mas você precisa muito mais do que isso se deseja realmente criar personagens únicos e convincentes. Vá dar um passeio, um bar, uma lanchonete ou coisa que o valha. Preste atenção em como as pessoas conversam. Analise o ritmo das conversas, as formas variadas com que duas pessoas se expressam sobre o mesmo assunto.
Quando escreve um romance, você precisa esquecer um pouco seus trejeitos, sua postura, seu tom de voz. É lógico que, no produto final, eles ainda estarão lá, mas de uma forma mais sutil e charmosa. A obra é sua, mas a matéria-prima precisa vir de outras fontes.
Ouça a Voz de Suas Personagens
Você costuma fazer isso? Quando escreve, ou revisa seus textos, deixa que as vozes de suas personagens ecoem em sua mente? Se não, esta é uma das razões deles não terem uma identidade própria. Você está ouvindo a sua voz quando eles falam. Como consequência, todas elas tem um máscara com o seu rosto. Se este é o caso, hora de mudar a maneira de escrever e ler suas obras. Se realmente sente que elas são pessoas reais, respirando dentro de sua cabeça, dê a elas uma voz. Não é pedir demais. A personagem é jovem e tem uma voz irritante? Quando ela resolver abrir a boca, force-se a ouvi-la exatamente desta maneira. A voz de outro é rouca e poderosa? Então deixe a voz dele retumbar em sua cabeça. Lembre-se: não é só o que as personagens dizem que os diferem, mas também como o fazem.
Lembre-se Que Suas Personagens Interagem Entre Si
Com quem suas personagens falam? Com você??? Béééé… Resposta errada. Com seus leitores??? Béééé… Resposta errada de novo.
A resposta correta é: suas personagens falam com as outras personagens. Eu e você somos apenas voyeurs acompanhando a trajetória destes ilustres. Precisamos abandonar um pouco esta mania de controle. Deixar que as personagens assumam um pouco da responsabilidade daquilo que dizem e fazem. Sua personagem viu o assassino fugindo. Eu sei, eu sei. Você quer que ela saia correndo atrás do assassino, mas me responda sinceramente: a sua personagem quer realmente fazer isso? Se não quer, não a obrigue. Se forçá-la a fazer isso, estará invariavelmente repetindo a sina que é tópico desta postagem: personagens iguais entre si, e iguais a você.
Quando escrevemos, precisamos tirar a coroa, lançar o cetro para longe. Não somos reis ou deuses. Deixe suas personagens correrem livres, e elas pararão de imitá-lo, ao mesmo tempo em que se tornarão mais convincentes e interessantes.
Confira Às Personagens Alguns Vícios de Linguagem
Vício de linguagem. Tiques verbais. Palavras habituais. O caminho é por aí. Isto permitirá pincelar uma identidade mais nítida para suas personagens. Por exemplo, uma delas pode usar repetidas vezes a palavra “realmente”. Mas os tiques verbais não precisam ser limitados às palavras. Você pode criar uma personagem e conferir a ela o hábito de usar trocadilhos, a outro a mania de utilizar sarcasmo, e assim por diante. São pequenos detalhes, mas essenciais para diferenciar a “voz” de cada um.
Qual o Comprimento das Sentenças?
Já reparou no tamanho das frases que suas personagens costumam construir? E as vírgulas, também estão lá tendo seu papel inconfundível em diferenciar o modo de expressar de cada uma delas? Se a diferença não for tão notável assim, poderá tentar isso. Ou seja, ao invés de:
– E o que você pretende fazer com sua vida?
– Vou correr como um louco tanto quanto essa minha cabeça insana permitir.
Tente isso, para variar:
– E o que você pretende fazer com sua vida?
– O que vou fazer? Correr atrás da minha vida. Correr como um louco. Sem regras, recompensas, ou castigos.
Se conseguir aplicar alguns destes métodos, não todos, pelo menos a princípio, você pode ter certeza que suas personagens estarão a caminho de se tornarem muito mais apaixonantes, impactantes e inesquecíveis.
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