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Guia para criar vilões convincentes e inesquecíveis

criar vilões inesquecíveis

Vilões são essenciais em nossas histórias. Eles ajudam a definir os heróis, criam e conduzem o conflito e contribuem para prender a atenção dos leitores. Por isso, eles são tão importantes quanto os heróis. Portanto, vamos caprichar neles. Veja como criar vilões inesquecíveis.


Como já mencionei no post Quem é o Maior Anti-herói do Cinema, grande parte dos vilões do cinema e da literatura são figuras patéticas e previsíveis – uma combinação nada interessante.

Mas, a gente sabe o quanto essas figuras são necessárias! Carregam aquela aura perturbadora, a arrogância brotando pelos poros, o sorriso ácido diante de suas crueldades. Mas, infelizmente, muitas vezes são tão irreais. Pior ainda, são esquecíveis!

Assim, o que é realmente preciso para criar um vilão inesquecível, que faça com que seus leitores e espectadores sejam capazes de sentir seu cheiro emanando das páginas do livro ou da tela do cinema? O que fazer para que seus vilões não sejam esquecidos pelos leitores, ficando para sempre gravados em suas memórias?

Quando falo aqui sobre criar vilões, não vou me limitar à literatura. Os princípios para criar bons vilões são válidos para livros, teatro, cinema ou televisão.

Mas, vamos começar pelo básico.

O que é um vilão?

O vilão surge em uma história como o oposto do herói. É aquele que desafia o herói, tornando este último absolutamente necessário. Ou seja, sem o vilão, o mocinho é desnecessário. Por isso, digo sem exageros que o vilão é o fio condutor de uma narrativa, sendo a figura responsável pelos atos de maldade presente no livro.

Sim, o vilão é figura vital em um romance. Tanto que o autor Dan Brown afirmou que costuma priorizar a criação dos vilões em seus romances. Somente depois ele dá atenção aos heróis.

Já pensou em fazer algo parecido com seus livros? Então, fica a sugestão. Em seu próximo romance, antes de gastar milhões de neurônios pensando nas qualidades do seu herói, comece pelo vilão.

7 características de vilões memoráveis

Vamos considerar as 7 características de vilões inesquecíveis:

  1. São humanos
  2. São vulneráveis
  3. Vivem longe da sociedade
  4. Têm valores deturpados
  5. Não nascem vilões
  6. Traços físicos únicos
  7. São imprevisíveis

1. São humanos

Vilões são humanos. Este é o princípio para criar vilões convincentes e memoráveis.

É verdade que eles têm uma visão deturpada. Mas, do seu ponto de vista, eles encontram uma justificativa para suas ações.

Vamos pensar em um exemplo: o personagem Joe em Looper, interpretado por Bruce Willis. Joe acredita que é o herói, um homem justo que volta no tempo para salvar sua esposa e impedir que Rainmaker cometa algumas atrocidades no futuro.

Este lado humano e autojustificado de Joe faz com que ele seja capaz de gerar empatia. Tanto que alguns nem mesmo o encaram como sendo realmente um “vilão”. (Fala sério: se matar crianças inocentes não significa ser vilão, acho que preciso procurar por este verbete no dicionário).

2. São vulneráveis

Aquele estereótipo de vilão invulnerável é muito comum. Mas isto não é legal. Na verdade, é um ingrediente perfeito para o vilão se tornar patético e esquecível.

Não queremos isso, certo?

Portanto, na hora de criar vilões não tenha medo de destacar algumas de suas vulnerabilidades. Isto tem o potencial de surpreender os leitores. Alguns leitores podem até ter algum tipo de empatia pelo vilão. Não no sentido de aceitar ou concordar com seus atos, mas são capazes de entendê-lo.

Basicamente, esta é a receita para você conseguir impactar seus leitores ou espectadores ao criar vilões inesquecíveis.

3. Vilões vivem longe da sociedade

Não importa qual seja o tipo de literatura que você está escrevendo – um livro de aventura, de fantasia, de ficção e assim por diante – seu vilão precisa viver à margem da sociedade.

Mas, o que isso significa na prática?

Os vilões vivem longe da sociedade. Talvez vivam em guetos ou no subterrâneo. Acabei de me lembrar de Lex Luthor, naquele no Superman de 1978. Se quisesse se encontrar com Lex, você precisaria ir até os lugares praticamente inacessíveis do metrô de Metropolis.

Se você pensar em outros vilões – de Coringa ao Darth Vader – verá que vilões costumam viver distantes da sociedade.

Mesmo quando estão entre outras pessoas, seu comportamento mostram que vivem à margem da sociedade.

Portanto, considere esta possibilidade: na hora de criar vilões, coloque-os bem longe da sociedade.

4. Têm valores deturpados

O que faz com que um vilão seja um vilão? Nem sempre isso tem a ver com o que ele quer.

O desejo de um vilão pode ser correto. Por exemplo, pense em Belloq, de Os Caçadores da Arca Perdida. O desejo dele é o mesmo de Indiana Jones: obter tesouros históricos. Logo, a gente conclui que não há nada de errado com o desejo de Belloq.

O problema aparece quando valores são comparados. Indiana Jones quer tesouros históricos, mas ele dá mais valor à vida humana. Tanto que está disposto a abrir mão de um tesouro por Marion.

Mas com Belloq, as coisas funcionam diferente. Tesouros históricos são mais valiosos do que vidas humanas.

É justamente isso que define um vilão. Você não precisa criar um objetivo maléfico para o vilão do seu livro. Basta colocar este objetivo como sendo mais valioso para ele do que vidas humanas.

Pronto! Fazendo com que eles tenham valores deturpados é uma ajuda e tanto para você criar bons vilões.

5. Não nascem vilões

Grandes vilões da literatura e do cinema têm algumas características em comum. Uma delas é que eles se tornaram vilões com o passar do tempo. Ou seja, o autor se certifica de mostrar que eles eram gente boa antes de uma sucessão de eventos levá-los para o mau caminho.

Quem não se lembra de Smallville, onde Lex Luthor surge como o melhor amigo de Clark Kent.

E novamente podemos falar de Darth Vader – o temível vilão que já lutou em favor do bem.

Portanto, vilões tem uma forte conexão com os heróis. Em certo momento, ambos já estiveram do mesmo lado.

Gostaria de te dar este conselho com forte ênfase: se você desenvolver uma personagem que teve um bom começo, fazendo as coisas certas, mas que foi levado para a maldade por causa de diversas situações, você está no caminho certo para criar um vilão incrível.

6. Possuem traços físicos únicos

Na hora de desenvolver um vilão, pense além dos traços psicológicos e emocionais. Pense também nos aspectos físicos. Eles são capazes de dar vida e tornar vilões ainda mais impactantes.

O vilão Darth Vader foi composto de forma bem cuidadosa: a voz abafada, a indumentária negra e o rosto deformado por trás da máscara.

Os pensamentos, sentimentos e ações dos vilões são essenciais para defini-los como tais. Mas, dê um passo além: crie elementos físicos únicos em seus vilões para torná-los memoráveis.

7. São imprevisíveis

Vilões marcantes são imprevisíveis. Vilões marcantes precisam tomar ações que surpreendam os leitores. Lembre-se disso ao escrever seus livros.

Um exemplo clássico de vilão imprevisível é o Coringa, em o Cavaleiro das Trevas.

Em determinado momento, o Coringa explica a razão de ter o corte em sua boca. Ele havia sido “presenteado” pelo pai que lhe perguntou, momentos antes do golpe cirúrgico: “Por que está tão sério?”. Naquele momento, nós aceitamos esta explicação como plausível. A explicação, por si só, humaniza o Coringa como alguém de carne e osso.

No entanto, mais tarde, o Coringa dá outra explicação sobre o corte. E depois, apresenta mais uma. Até que chegamos a conclusão de que nunca vamos saber o que realmente aconteceu.

Intrigante! Um vilão tão mentiroso que consegue enganar até os espectadores mais curiosos.

Dicas para criar um bom vilão em seu livro

A primeira dica é seguir as características mencionadas acima. Mas, além disso, tenho algumas dicas adicionais.

1. Ao criar vilões, não use argumentos preguiçosos

Na hora de criar vilões, muitos escritores apelam para o caminho mais fácil. Aí não dá outra: cometem o erro de transformar distúrbios mentais e emocionais em grandes vilões.

“Por que ele faz tanta maldade?” “Ah, porque ele é louco”.

A menos que esteja escrevendo o roteiro da próxima novela das 8, fuja desta explicação.

Lembre-se: transtornos de personalidade não são personagens, embora, às vezes, façam parte deles.

Explicações assim são preguiçosas. Caracterizam a personagem como previsível. Ele é louco, logo, pode fazer qualquer coisa. Afinal, ele está amparado pelo seu padecimento psicossomático. Que chatice!

Portanto, explique os motivos do vilão, mostrando as razões dele tomar atitudes maléficas.

2. Escolha uma pessoa real como modelo

É mais fácil criar um bom vilão quando ele é moldado a partir de uma pessoal real. Você pode escolher alguma figura histórica ou algum facínora no diário policial.

Isto é bom para você conseguir “visualizar” o vilão antes dele ganhar vida no papel.

Claro, isto serve apenas para orientar o desenvolvimento das características. Não deixe o vilão tão parecido com a pessoa real a ponto de outros perceberem a referência. Do contrário, você corre o risco de ser processado.

3. Capriche na apresentação

Sabe aquela máxima “a primeira impressão é a que fica”?

Pois bem, na hora de apresentar o vilão para seus leitores, faça isso com profissionalismo. O vilão precisa surgir de forma impactante. Apresentá-lo em uma situação “sem sal”, simplesmente passeando, tomando um café ou dando um beijo em sua mãe causa pouco impacto nos leitores.

Portanto, lembre-se: na hora de apresentar o vilão, certifique-se de tirar o fôlego dos seus leitores.

4. Responda este questionário no processo de criação

Apresento a você, nobre autor, um questionário desenvolvido com esta finalidade: ajudá-lo a criar vilões convincentes e inesquecíveis.

Tenho certeza que será de ajuda no seu projeto literário.

Pergunta 1: Por que meu vilão age desta forma? Que fatores internos e externos o motivam?

Ao explicar as razões do seu vilão, fuja de explicações como: “Ele quer dominar o mundo”. Justificativas assim dão dor no estômago.

Em vez disso, procure humanizá-lo por atribuir verdadeiras razões. Será que ele quer conquistar o mundo porque é a única forma de se sentir seguro, já que todos terão medo dele? Ou será que seu objetivo é simplesmente ter posses, não existindo nada no mundo que não possa ser adquirido?

Pergunta 2: Por que ele vai tomar esta atitude?

Como já mencionei, não responda: “Porque ele é louco”. As pessoas querem uma explicação plausível e racional por trás de cada atitude.

Pergunta 3: O que aconteceu no passado que o convenceu de ser capaz de conquistar aquilo pelo qual luta?

Não apresente seus vilões simplesmente como querendo algo e ponto final. Existe uma história de vida, um ciclo de traumas e conquistas que explicam seu convencimento.

Lembre-se da dica 5 que mencionei acima: vilões não nascem vilões.

Além disso, você precisa definir quais são as qualidades dele que o convencem de ser capaz de conquistar mais e mais. Ele pode ter carisma, inteligência ou outras habilidades que lhe deram sucesso no passado e que o convencem do sucesso em seus objetivos malignos.

Pergunta 4: Se o vilão tiver algum transtorno emocional, como este interfere em seus atos? Como intensifica uma maldade já existente?

Lembre-se: transtornos de personalidade, puramente, não criam bons personagens.

Se conseguir extrair um personagem odioso após esse exame, me apresente. É provável que eu o coloque ao lado de Darth Vader, Lex Luthor e de outros estimados e inesquecíveis vilões.

Quais são alguns dos seus vilões favoritos? Responda nos comentários abaixo. Escreva as características deles que o faz colocá-los no topo da sua lista.


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