Samantha sempre soube que os homens são dotados de uma arrogância desconexa e uma insegurança absurda – por esta razão, eles sempre desejam ser o primeiro amor de suas pretendentes. Saber que são o segundo, terceiro, vigésimo namorado, deixa-os com a torpe sensação de que são o estepe, a sobra. “Na falta de alguém interessante, vai você mesmo”.
As mulheres, por outro lado, sempre desejaram ser o último amor de seus homens. Não importa quantos amores eles já tiveram no passado, as mulheres não se importam com isso – desde que sejam o romance derradeiro, o último porto no oceano.
Mas nem todas elas se guiam por este princípio. Nem todas.
Samantha estava a procura do seu primeiro namorado. Talvez pelo fato de cada átomo do seu corpo ser um revolucionário, Samantha inverteu a situação. Diferentemente da grande maioria das mulheres, Samantha se preocupava exclusivamente com o passado de seu pretendente. Para ela, pouco importava se o romance duraria meses ou a vida inteira. O que lhe importava é que seu primeiro namorado fosse um iniciante no campo amoroso, sem estar contaminado por desilusões do passado. Ela seria a primeira namorada dele, e esperaria – ainda que uma eternidade – até encontrá-lo. Esta era sua promessa.
Sempre que conhecia um rapaz interessante (e interessado), Samantha especulava seu passado, sem deixar exibir qualquer ansiedade. Soltava, como quem nada quer, um:
– E, então? Quando você terminou seu último namoro?
Se o pretendente falasse há “dez anos” ou “há meia hora”, isso não faria qualquer diferença. Pouco importava seu charme, seus apelos sentimentais, sua conversa suavemente encantadora – ela o dispensava na hora.
O plano apresentava efeitos colaterais indesejados, ela sabia disso. Por causa do orgulho machista, um homem iniciante no campo amoroso dificilmente admitiria nunca ter namorado. Uma reação que diminuía as chances de Samantha de encontrar um pretendente. Pior para eles, pensava ela. Se eram incapazes de exibir sinceridade no início do relacionamento, melhor nem dar o passo inicial.
Embora ela esperasse por dificuldades, não imaginava que pudessem ser tão exaustivas. Meses e anos se passaram, e Samantha não encontrava uma viva alma que se encaixasse em sua única exigência. Estava começando a questionar a validade de sua convicção. E já cogitava quebrar a promessa que um dia fizera para si mesma.
Até teria quebrado, se Raul não tivesse surgido, sob holofotes, em uma festa qualquer, cheia de gente estranha e cambaleante. Ele se aproximou, emoldurado em uma escultura renascentista, polido e lapidado com destreza áurea, um sorriso capaz de infartar jovens senhoras já em estado desesperativo. Mas, o que fez Samantha temer por um súbito ataque cardíaco foi quando ela lhe perguntou sobre o término do seu último namoro. O rapaz, parecendo meio tímido, disse em voz baixa, como se temesse ser ouvido pelos estranhos bêbados ao redor:
– Eu nunca namorei.
Samantha quase pulou em seu pescoço. Mas se conteve. Não era uma garota fácil. Precisava manter a postura. Não se torne sentimental ou acabará agindo como uma babaca, pensou. Assim, fingiu desinteresse.
– Nunca? Puxa, que coisa!
– Na verdade, estou procurando meu primeiro amor.
Inspire. Expire. Talvez fosse uma jogada dele. Ela precisava descobrir se ele estava sendo sincero ou não. Resolveu arriscar.
– Hum, é mesmo? Que pena! Eu gosto de homens mais experientes. Os namoros que tive com inexperientes não deram muito certo. Um fracasso absoluto.
Ele pareceu desapontado. Sincera e visivelmente desapontado.
– Isso significa que não tenho chance?
– Você nunca namorou mesmo?
– Não.
Ela não precisava de mais nada. Neste momento, mudou o tom da conversa. Começou a gesticular, mexer no cabelo, espalhar gargalhadas exageradas para garantir a Raul que ele estava no caminho certo.
Até que ele quis saber sobre os relacionamentos dela.
– Que nada – disse Samantha, – eu nunca namorei.
– Nunca? Mas e aquela conversa sobre seus anteriores relacionamentos…?
– Ah, bobo. Eu estava te testando.
Raul mudou sua feição. Sua anterior disposição resoluta agora cedia diante da revelação de Samantha. Percebendo a súbita reação de Raul, ela perguntou:
– O que houve? Algum problema?
– É que… Bem, eu estou procurando uma mulher experiente, já com vários relacionamentos na bagagem. Sabe como é… eu fiz uma promessa para mim mesmo.
Após instantes de silêncio que pareceram uma eternidade, ele lentamente se virou e foi embora.
Samantha ainda mordia os lábios enquanto observava o homem de sua vida desaparecendo na densa névoa daquela festa entupida de gente estranha. E só conseguia pensar em uma coisa: que promessa imbecil a dele!
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desfecho surpreendente demais.
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Simplesmente arrepiada com esse texto!
Meus parabéns, Juliano.
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Prazer, Samantha.
“O que é isso!? Agora eu penso: “valeu a pena?””
“O problema era não saber o que fazer depois quando o encontrasse e como seria, tive o que esperava. Encontrei-o, apaixonei-me e o amei por 11 minutos. Fim. ”
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Amores e experiências, vidas passadas e leituras diversas….
O que está valendo é só o agora? Uma intuição diz que não.
Eu creio que encontrar é possível e por isso mesmo é fato, mas apenas encontrar é o suficiente?
Saber disso e partir para a ação com jeitinho….
ufa que alívio, não sou mais igual a ela, pois vejo o que quero depois do encontro.
Mas amar com restrição é uma merda mesmo.
Ame sem restrição. Relacione-se com cuidado. Entregue-se com restrição…
Quais as regras? haha agora vou ter que escrevê-las.
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Parabéns pelo texto, me fez reagir, pensar e escrever. Obrigada.
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Sensacional!!!!!!!
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é… coisas do humano, bem representado… bom dia
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Curti!!!