Odiava praia. E como não odiar?, costumava perguntar. Se os elementos que integram uma praia fossem friamente analisados, não haveria como não nutrir sentimentos de repulsa por este ambiente agressivo à saúde e ao bem-estar. Malditos grãos de areia que sempre insistem em entrar onde não devem, pinicando todo o corpo, um sol infeliz torrando a pele e multiplicando melanomas e não-melanomas, além de uma água imunda e fétida, proliferando bactérias que fazem a festa no corpo dos ingênuos que ali se divertem.
Por esta razão, ao chegar aos 60 anos, Antenor nunca reservara um dia sequer de suas férias para adentrar praias entupidas de pessoas com suas micoses purulentas, como costumava dizer. Os amigos e familiares, claro, sempre se incomodaram. As férias dele sempre se limitaram a viagens para o interior, fuga do caos urbano para o tédio de alguns poucos monumentos e turismo de aventura.
Mas quando Antenor completou os 60 anos, a família decidiu mudar esta história. Sem seu conhecimento, compraram um pacote turístico para uma badalada praia do Nordeste. Tudo incluso: passagem, estadia, alimentação e até transporte local. E, obviamente, tudo mantido sob rigoroso segredo. Para o Antenor, diziam que as férias seriam no interior, para uma daquelas cidades cuja atração se limita apenas a comida e bebidas típicas. Só depois que enfiaram o velho dentro do avião, devidamente afivelado, comunicaram que o destino seria uma praia.
Houve um princípio de escândalo. Me tira daqui, eu não quero pegar câncer, eu não quero micose pútrida leprosa em minha pele, e por aí afora. Mas com alguma conversa, inclusive ameaça de divórcio da dona Arlete, botaram o velho de volta ao bom juízo e ele manteve a boca fechada, a viagem toda. Mas ainda dava para ver em seus olhos a ira diante da traição de todos aqueles que um dia ele jurara amar.
Ao chegarem à praia, a família esperou pelo pior: um escândalo mais ostentoso do que o dado no avião. Mas ao contrário, o semblante de búfalo mal-humorado do velho Antenor cedeu diante da visão arrebatadora, do frescor sem igual, da agradável intensidade que o casamento entre sol, areia e mar proporciona.
Durante aquele dia, a família concordara em uníssono: nunca tinham visto um Antenor tão feliz quanto naquela tarde ensolarada. Ele até trocou algumas palavras amistosas com outros que se estiravam na areia, nas proximidades.
Na semana seguinte, na viagem de volta de avião, Antenor garantiu a todos que não aguentaria esperar as próximas férias. Nas semanas seguintes, no máximo em alguns poucos meses, daria um jeito de voltar para a praia.
Isso, lógico, após ele tratar e curar a micose tinha crural, a pitiríase versicolor, e a onicomicose subungueal distal e lateral.
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Já se tinha outros exemplos, eu gosto muito de hambúrguer mas engorda, não faz bem para a saúde, se comer todo dia faz mal e o pior que sempre como acompanhamento vem uma lata de refrigerante, esse nem se fala descobri recentemente que da câncer.
Todo bem tem um maleficio.
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Crônica agradável de se ler. Suavemente divertida e contagiante ! Até senti uma coceira na pele só de pensar na minha terra natal “Praia da Conceição”,em PE!
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Muito bom o seu texto! amo crônicas humorísticas!
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O meu professor passou essa crônica, como atividade avaliativa.
Muito legal! Ameii!
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Kkk kkkk gostei do fim ele pegou as doenças que temia pegar ao ir a praia …
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Muito Bom! Bem humorada
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mt bom msm
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Adorei a crônica. Gostosa de ler!!
Eu particularmente amo praia e estou contando os dias para ir ao Rio de Janeiro descansar um pouco.
Espero não pegar nenhuma micose HAHAHA
Abraços
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rsrs, bem engraçada, mesmo. Linda semana a todos.
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hahahaha Gostei, no fim você se entrega á razão! hahaha Dona Arlete eu ri!! Muito boa… mas faltou a dedicatória! Beijos
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Muito bacanas as suas cronicas.
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Muito bom! Gostei.
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O pulso ainda pulsa
O pulso ainda pulsa…
Peste bubônica
Câncer, pneumonia
Raiva, rubéola
Tuberculose e anemia
Rancor, cisticercose
Caxumba, difteria
Encefalite, faringite
Gripe e leucemia…