Entrevista Com Hope Larson
Confira a entrevista com a autora Hope Larson concedida ao escritor e crítico Martyn Pedler
Você já ouviu falar na autora Hope Larson? Ela é uma bem-sucedida escritora, autora de cinco romances gráficos (conhecidos, em inglês, como graphic novel). Seus quadrinhos também são destaques no The New York Times, além de aparecer em diversas antologias do gênero. Ela já venceu diversos prêmios da área de cartoons, como o Ignatz e Eisner, e possui uma escola de arte em Chicago.
Em entrevista concedida a Martyn Pedler, Hope Larson falou sobre seu trabalho e família.
Com relação a adaptação do romance A Wrinkle In Time, qual a diferença entre contar sua história e a história de outro?
Sinceramente, não vejo problemas. Quando eu desenho minhas histórias, eu costumo fazer um roteiro antes. Então me sento e vou desenhando, deixando que a outra parte do meu cérebro assuma o controle. O trabalho acaba se tornando intuitivo e mecânico. E quando adapto histórias de outros autores, eu também costumo escrever um roteiro. Por isso, quando começo a desenhar, não percebo qualquer diferença.
Você tem um grande romance em sua frente, e precisa transformá-lo em um graphic novel. Por onde começar?
Minha preocupação é manter a obra fiel ao original. Não quero decepcionar os fãs de um romance, por isso, prezo pela fidelidade à obra original. Ao adaptar “A Wrinkle In Time”, eu decidi escrever um roteiro que abrangesse todo o romance. Todos os diálogos, todas as cenas, tudo mesmo. Não quis ter a responsabilidade de cortar algo que poderia ser importante. Pensei: “Se eles quiserem cortar algo, que o façam”. Ou seja, passei a bola. O resultado final pode ser visto no número de páginas: 400. Exatamente porque está tudo lá.
Isso pode soar como uma heresia, mas eu nunca li o original de A Wrinkle In Time. Eu até pensei em fazer isso antes de ver a sua versão em comics. Mas então eu decidi não ler o original, e ser uma espécie de cobaia. Eu li o seu graphic novel sem estar com aquela expectativa: como o meu personagem favorito foi desenhado? Como minha cena predileta foi desenhada? Eu quis ler sua história primeiro e, confesso, achei muito bom.
É fantástico ouvir isso. Afinal, este sempre foi um romance muito importante para mim, principalmente durante a minha infância.
Quais foram os outros autores que te influenciaram nesta época?
Dianne Wynn-Jones foi uma autora muito importante para mim. Também C.S. Lewis e Lloyd Alexander.
E agora você está produzindo suas próprias histórias para adolescentes. O que isto significa para você? Isso tem um significado que vai além do marketing?
Claro que tem a questão do marketing também. Mas é basicamente uma história sobre um adolescente. Provavelmente, uma história para o público adolescente, mas não somente para este, já que pessoas de todas as idades estão lendo este tipo de coisa.
E como você classificaria este seu trabalho? O que você colocaria na capa dos livros?
Provavelmente, usaria algo como Jovem Adulto ou Juvenil. Acredito que as pessoas estariam mais propensas a examiná-lo se usar estes termos. Mas se eu pudesse, eu preferiria não dar a ele qualquer classificação. Eu odeio ter que carimbar um selo em minhas obras. Eu posso encarar o livro como sendo infanto-juvenil, e a editora encarar como infantil. Por isso, se fosse possível, eu preferiria não classificar minhas obras.
O assunto “Família” desempenha um papel muito importante, tanto em A Wrinkle In Time, bem como em Mercury. Mas o conceito de “família” em Mercury é bastante sombrio e complexo…
Eu venho de uma família onde somos todos reservados, o tipo de pessoas bastante solitárias. Não somos super-próximos. Nós nos amamos, claro, mas não somos o tipo de família que precisa passar os finais de semana, juntos. A família nunca foi um foco em minha vida e admiro outras pessoas que são tão próximas de suas famílias. Minha família, no momento, é apenas eu e meu marido.
Curioso que A Wrinkle In Time fala sobre crianças resgatando o pai delas, mas quando finalmente conseguem, as coisas não terminam bem.
Esta é uma das minhas partes favoritas do livro. Eles encontram o pai, mas isso não resolve nada. Eles simplesmente passam a ter problemas adicionais. Isto soa muito interessante para mim. É algo muito real.
Você se preocupa em transmitir alguma lição, como uma lição de moral mesmo, em seus trabalhos?
Meus editores sempre me incentivaram a ter este tipo de preocupação, em transmitir uma lição em minhas obras. Recentemente, tenho escrito coisas para um público adolescente, e assuntos como violência e sexo podem estar presentes. Mas o que as pessoas vão pensar não direciona o meu trabalho. Não consigo produzir algo ao mesmo tempo em que estou preocupada se serei banida das bibliotecas. Não é assim que funciona. Mas no final de qualquer obra, acho que sempre há alguma espécie de moral existente – porque quando escrevo, na verdade, eu procuro pela maneira certa de fazer as coisas, ou encontrar algum tipo de verdade no mundo. Talvez isso soe mais como uma lição de moral para mim do que propriamente para outras pessoas.
Você está terminando um curta-metragem, Bitter Orange. Como foi essa mudança? Você acostumada a trabalhar sozinha em seu quarto e, de repente, trabalhando com vários profissionais.
Eu amei. Na verdade, foi completamente diferente do que eu imaginei que seria, e precisei me adaptar de formas que eu nem pensava. Este trabalho me ensinou muito sobre escrever bem. Você precisa conhecer seus personagens por dentro e por fora. Diretores e atores pensam nos seus personagens nos mínimos detalhes, e aprendi que preciso encarar os personagens da mesma forma.
Uma última pergunta relacionada a Wrinkle In Time: por que você acha que queremos ver diferentes versões de uma mesma história?
Esta é uma boa pergunta. Na verdade, este projeto veio até mim. Eu não o instiguei. Eu fiz isso não pensando somente em lucratividade ou coisas do tipo. Eu fiz porque realmente amo muito este livro. Eu senti que realmente tinha que fazer isso. Mas é lógico que o fator “dinheiro” também teve um peso na decisão.
Eu acho que quando amamos algo, queremos vê-lo em tantas formas diferentes quanto possível.
Quando nós amamos estas histórias, não queremos que elas acabem. E vendo-as em novos formatos, talvez, isso nos garanta que elas são realmente eternas.
Deixe um comentário