Tão trivial foi sua vida que sequer existem justificativas para revelar seu nome. Destacou-se entre os átomos do planeta como não mais do que um suspiro – mal seus pés tocaram o chão, já era hora de dizer adeus à plateia de dois ou três, e voltar ao pó. Quando as cortinas se fecharam, os dois ou três bocejavam.
– O que faço para escapar daqui? – perguntava, o Anônimo, enquanto olhava os muros de sua vida como se fossem sua prisão.
– Aceite! – respondiam os dois, em uníssono.
Namorada, apenas uma. Talvez meia. Tão anônima e despedaçada quanto ele. Desnecessário dizer, mas nunca casou. Não deixou herança ou herdeiros. Não deixou casa ou celeiros.
Não fez nada de interessante, nem se interessou apaixonadamente. Até teve seus devaneios juvenis. Tornar-se uma estrela do rock, deixar família para trás e viver intensamente.
Chegou a se perder em meio às imaginações melancólicas do seu breve sucesso meteórico. Mas como apenas um mórbido homem comum, jamais deu um passo relevante nesta direção. Os dois amigos apenas repetiam: “Aceite”. Faltava-lhe coragem, perseverança e competência. Faltava-lhe sangue e cafeína nas veias. E sobravam-lhe batidas secas de uma marcha fúnebre.
Tanto insistiu na inexistência que nunca conseguiu deixar uma nota sequer como autobiografia. Antes de sua morte, pediu que os parentes escrevessem em sua lápide: “Nasceu, viveu e morreu”.
Ainda parecia muito.
Após a sua morte, os parentes estavam mais compromissados com a verdade do que com seu último desejo. Por esta razão, certificaram-se de que na lápide fosse inscrito, tão somente: “Nasceu… e morreu”.