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Crônicas corrosivas e gestos de amor

Drama Vs. Melodrama

Não é incomum que as palavras “drama” e “melodrama” sejam muitas vezes utilizadas como sinônimos. Expressões do tipo “Não faça drama” e “Não faça melodrama” assumiram um mesmo significado (quanta injustiça!), mas a realidade reside um pouco além disso.

Drama Vs. Melodrama

Drama versus melodramaNo tocante à literatura, o drama é uma composição em prosa ou verso caracterizado por diálogos e ações, que procura representar a vida real. É a descrição de uma série de eventos que traz o leitor para um universo paralelo de tensão e emoção.

O melodrama, por outro lado, é o drama enriquecido (ou empobrecido, dependendo do contexto) com o exagero e o sensacionalismo. Diferentemente do drama, o melodrama é caracterizado por elementos bombásticos, e atribui ao sentimentalismo exagerado sua principal fonte de vida.

Escrever um livro recheado de elementos melodramáticos, em certo sentido, oferece alguns desafios. Isto porque exige do escritor um maior uso de palavras, especialmente adjetivos, para conseguir transmitir a emoção excessiva presente nas personagens. Dizer que sua personagem chorou ao ver o amado partir é drama. Melodrama exigirá algumas doses de “coração dilacerado”, “lágrimas vertendo em um infame rio de angústias”, e assim por diante.

The Dark Side of Melodrama

dark side of melodramaMelodrama pode ser desafiador pela exigência de descrições mais detalhadas. Mas não significa que é melhor. O exagero costuma ser cansativo e pode banalizar as emoções. Naquele grande momento, quando você precisará das melhores palavras para descrever o ápice de um capítulo ou do romance, a banalização das expressões bombásticas ao longo do livro poderão diminuir o impacto emocional.

Além disso, a necessidade do melodrama pode representar a baixa qualidade de um conteúdo. Isto porque o escritor precisa utilizar uma linguagem altamente emocional para “forçar” o leitor a uma reação emotiva. E cá entre nós, este tipo de postura literária é intimidante.

Outra desvantagem é que personagens melodramáticas possuem bondade ou maldade em grau absoluto e, exatamente por isso, não evoluem ao longo do romance. Isto significa que suas ações são previsíveis, e você, escritor, não pode contar com o elemento surpresa para impactar seus leitores.

Hora da Verdade: Você é Melodramático?

Assim, convém perguntar: como saber se meu livro é melodramático? Algumas de suas características são:

  • Sentimentalismo banal como se o livro fosse um cartão recheado de frases piegas;
  • Diálogos irreais;
  • Não induz leitor à reflexão, mas se contenta em levá-lo do ponto A ao ponto B com algum divertimento ao longo do caminho;
  • História básica, estável e totalmente previsível;
  • Descrições exageradas de eventos e emoções;
  • Longas reações emotivas de personagens diante de determinadas situações.

Mas não precisa entrar em desespero (não seja melodramático). O melodrama nem sempre é ruim. Grandes gênios da literatura já flertaram com este gênero. Ele pode ter o seu momento, é verdade. O perigo é utilizá-lo como um recurso recorrente. Se seu livro é caracterizado principalmente pelo melodrama, recomendo revisar suas prioridades. As sutilezas e a escolha mais criteriosa de palavras podem ter um incrível poder de envolvimento para os leitores, muito além do que conseguirá evocando os excessos.

Se seu público-alvo ama melodramas, melhor me ignorar. Mas se pertence ao time dos que querem fugir do exagero banalizado, é preciso estar atento a alguns detalhes.

Como Não Ser Melodramático

  • Descrições precisam ser cuidadosa e estrategicamente distribuídas para conseguir impactar os leitores. Jogar tudo de uma vez sobre eles poderá sobrecarregá-los.
  • Conheça o timing da emoção. Emoções de longa duração podem ter um efeito negativo sobre as personagens, desgastando-as, e fazendo com que antipatizemos com elas.
  • Saiba usar o “silêncio” como um mecanismo de comunicação. Não trate seus leitores como se eles tivessem sofrido algum dano cerebral, e sejam incapazes de saber como uma personagem se sente, caso você não faça uma descrição detalhada. Poucas palavras podem transmitir mais informações do que um turbilhão de detalhes.
  • A despeito de escrever fantasia, o romance precisa ser pautado pela realidade. Causa e efeito precisam combinar com o universo ao redor.

Em suma, cuidado com o melodrama. Quando precisar dele, lembre-se da sábia advertência: use-o com moderação.

Agora, aquele momento da confissão: seus textos são caracterizados pelo melodrama?

2 Comments

  1. João Cruz

    at

    Olá amigo, gostei muito das suas crônicas! Você tem algum e-mail para que possamos trocar ideias a respeito da arte em escrevê-las? Afinal, já és mestre.

  2. Rosely

    at

    Gostei das suas dicas para Drama e Melodrama. Acho também que tudo tem seu tempo certo, o difícil é saber dosar para ficar bom um texto. Agradeço pelas explicações, continue mandando, ajuda muito quem quer escrever alguma coisa.

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