Tão trivial foi sua vida que sequer existem justificativas para revelar seu nome. Destacou-se entre os átomos do planeta como não mais do que um suspiro – mal seus pés tocaram o chão, já era hora de dizer adeus à plateia de dois ou três, e voltar ao pó. Quando as cortinas se fecharam, os dois ou três bocejavam.
Nasceu em uma cidadezinha qualquer, onde nada acontece. Um daqueles lugares deprimentes para burro, onde um abutre morto na praça gera comentários por semanas. Era apenas uma criança de pernas frágeis e formação humilde esperando que em sua vida ainda houvesse um refrão, além das repetitivas estrofes. Estudou no colégio João-alguma-coisa ou José-seja-lá-o-que-for. Sempre foi o alvo mais fácil para qualquer troça. Por isso, estava sempre na companhia de J.L. e Lazy Eye – seus dois amigos imaginários. As conversas eram sempre as mesmas.
– O que faço para escapar daqui? – perguntava, o Anônimo, enquanto olhava os muros de sua vida como se fossem sua prisão.
– Aceite! – respondiam os dois, em uníssono.
Namorada, apenas uma. Talvez meia. Tão anônima e despedaçada quanto ele. Desnecessário dizer, mas nunca casou. Não deixou herança ou herdeiros. Não deixou casa ou celeiros.
Não fez nada de interessante, nem se interessou apaixonadamente. Até teve seus devaneios juvenis. Tornar-se uma estrela do rock, deixar família para trás e viver intensamente.
Chegou a se perder em meio às imaginações melancólicas do seu breve sucesso meteórico. Mas como apenas um mórbido homem comum, jamais deu um passo relevante nesta direção. Os dois amigos apenas repetiam: “Aceite”. Faltava-lhe coragem, perseverança e competência. Faltava-lhe sangue e cafeína nas veias. E sobravam-lhe batidas secas de uma marcha fúnebre.
Tanto insistiu na inexistência que nunca conseguiu deixar uma nota sequer como autobiografia. Antes de sua morte, pediu que os parentes escrevessem em sua lápide: “Nasceu, viveu e morreu”.
Ainda parecia muito.
Após a sua morte, os parentes estavam mais compromissados com a verdade do que com seu último desejo. Por esta razão, certificaram-se de que na lápide fosse inscrito, tão somente: “Nasceu… e morreu”.
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Li essa crônica durante uma aula de português quando tinha apenas por volta de uns 13 anos (hoje tenho 18). Já leram algo que nunca mais saiu da sua cabeça? Pra mim é esse texto. Ele me fascinou de uma forma que até hoje sempre que penso em como é sentir a arte em mim eu me lembro de como foi ler isso pela primeira vez. Me faz pensar que às vezes ao escrevermos algo não pensamos no tamanho do impacto do que criamos.
Só tenho a agradecer ao autor e a minha professora que me apresentou a obra
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Ótimo texto. Parabéns!!
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Você conseguiu transformar uma existência monótona em algo profundo somente usando as boas e velhas palavras intrinsecadas.
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É um ótimo texto, diferente, mais muito bom, e quando ele acaba ficamos nos julgando. É bom porque nos faz pensar em nossas vidas, parar e refletir!
É diferente, é bom, mais também é triste, diferente de uma história de amor que tentamos adivinhar o final, sofremos com o amor dos personagens, avaliamos que poderia ser diferente, mais neste texto só a tristeza de um anônimo que viveu sem ter significado, passou por aqui, e não deixou nada, nem saudades.
Continuo admirando tudo que escreve e também admiro a variação de estilos, meus parabéns.
Eron
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Gostei do site e da forma que escreve. Viva a leitura!
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Adoro textos sobre coisas tristes, histórias tristes, personagens tristes…
Acho que acabo sempre me identificando com eles.
Parabéns.
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Parabéns, muito bom ! Acho que daria para criar uma linda estória antes de ele morrer, ou poderia ser esse o texto que o personagem principal estivesse escrevendo sobre ele mesmo, porém antes de alguma coisa inusitada acontecer e mudar a sua vida de forma a descobrir o sentido da sua existência e sua vida ser transformada completamente…Só foi uma idéia, desculpe-me se estou me entrometendo demais no seu texto, é que realmente achei-o ótimo! Bons textos !
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um belo texto sobre a realidade de muitos bjuuu
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… quando a vida se consume e não se vive…
Gostei muito da reflexão que inspira o seu texto.
Muitos parabéns pela escrita!
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Muito bom , crônica perfeita.
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Simplesmente Fabuloso!