Dia epagômeno. Ruptura no tempo/espaço. Típico dia ovelha-negra. Nem precisaria ter vindo a existência. A sensação de que muito poderia ter sido feito, mas nada se criou (ou recriou). Dia vago, vagando por aí, me deixando vasto de vacilação.
Passei o dia pensando nela. Ela que conseguiu suavizar o ar arenoso, o paladar escamoso. Ela que redecorou a cena, improvisou novas falas, atribuiu novos personagens, quando eu já imaginava ter a peça chegado ao fim. Ela que soube ditar as rimas, preencher as rupturas, cadenciar a batida do meu coração. Como se novos textos lindos pudessem ser reescritos a cada segundo com o mesmo semblante em vigor.
Na sua ausência, sinto falta de mim, sinto falta de ti. Imaginar seus pensamentos em outros quintais, me deixa averso a conhecer verdades e revelações. Preferiria que a verdade fosse aquela que costumo emoldurar nos momentos de solidão, iluminado por um quarto escuro, quando posso me expressar e me iludir.
Queria que estivesse aqui. Sua ternura recoloca planos sobre a mesa. Infla meu peito de coragem, desejo de criar, ânsia em cumprir. Seu sorriso me contempla esperançoso. Suas palavras me preenchem harmonia. Sem saber seus rumos, e como lhe perseguem outros quintais, fechei-me aqui e declararei para sempre o hoje, um dia epagômeno.