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Guerra Mundial

crônica sobre guerra mundial

Eu não sou um soldado, gritava ela, enquanto fugia dos tiros e bombardeios ao redor.

Havia uma nuvem de drones no céu metálico, carregando granadas e pequenas bombas, um repetido prenúncio de que ela inspirava, pela última vez, aquele ar acre e tóxico.

Mais uma guerra mundial, mais uma carnificina. O ser humano e seu velho estigma de se autodestruir não conseguiam fugir das regras.

Ela que imaginava ter a vida perfeita, viu tudo ruir da noite para o dia. Nunca imaginara que a guerra a alcançaria. Mas ali estava ela, coberta de cinzas e feridas, esfomeada e desidratada. Hoje, não postava mais fotos de refeições e fins de tarde na praia. Não havia mais instantes de risadas e drinks instagramados. Em vez disso, apenas gritos e lágrimas, explosões e zunidos.

Não havia esperanças, afinal. Nada voltaria a ser como antes. Se ainda no início da guerra, ela nutrira uma pequenina parcela de esperança de que tudo aquilo poderia acabar, e tão logo ela voltaria para sua rotina pomposa, agora, não mais. Tudo se desvanecera, sua esperança reduzida a cinzas, corpos e explosões.

Finalmente, encontrou um abrigo temporário, debaixo de uma velha ponte – uma infantil sensação de segurança.

Ali havia um jovem trêmulo. Devia ter uns quinze anos, embora fosse difícil distinguir feições debaixo de tanto fuligem. Ele parecia demasiadamente assustado, bem mais do que ela própria. Todo seu corpo tremia, olhos desesperados, alma despedaçada.

Subitamente, ela foi invadida por uma sensação materna, uma necessidade de tão somente cuidar.

Ela se aproximou e envolveu os ombros do garoto com um de seus braços.

– Está tudo bem – disse, ternamente. – Não se preocupe. Tudo isso vai passar, eu prometo.

Aos poucos, o garoto se acalmou.

Mergulhados no caos, entre estrondos e clamores, aquelas duas almas conseguiram alcançar o inimaginável: calma e esperança.


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