Na hora do almoço, Sr. Muscarelli chegou à lanchonete. A garçonete se aproximou, e com um sorriso amistoso, perguntou:
— Deseja alguma coisa.
Sr. Muscarelli abaixou a cabeça, e pensou: “Por que ela está rindo de mim?”
— Senhor? — Ela insistiu.
De cabeça baixa, pensou: “Por que ela não respeita meu silêncio?”
Quando ele levantou a cabeça, ela tinha desistido e ido atender outro cliente. Era muito desprezo para tão poucos minutos.
Sr. Muscarelli saiu da lanchonete e, cansado de sua vida frágil, decidiu cruzar a avenida de olhos fechados.
Não havia um único carro na avenida!
Quando era criança, certa vez, a professora perguntou do que as crianças mais tinham medo. O pequenino Muscarelli disse que tinha medo de ser esquecido.
Metade da turma disse que tinha medo do garoto Muscarelli.
Sr. Muscarelli andava demasiadamente solitário. Por isso, começou a pensar seriamente na possibilidade de casar, e ter filhos. Seria a grande revolução: de homem solitário para um homem vivaz, amado e com objetivo.
No dia seguinte, no entanto, não conseguia se lembrar de qual era seu plano revolucionário. Ficou profundamente deprimido com a fragilidade de sua memória fraca. E, exatamente por isso, concluiu:
— Ainda bem que não tenho família. Eu seria um péssimo pai e marido.
Todas as pessoas pareciam ter objetivos bem definidos na vida. Até Marco, um colega obeso do escritório, tinha um objetivo: emagrecer.
Mas o Sr. Muscarelli não tinha nem mesmo este privilégio. Por isso, decidiu engordar para então poder estabelecer o alvo de emagrecer.
No primeiro dia, almoçou o dobro do que estava acostumado. Tomou 2 litros de refrigerante. E ainda encarou meio pote de sorvete de sobremesa.
Vomitou tudo 5 minutos depois.
Em certa noite, Sr. Muscarelli sonhou que era jogador de futebol. Em cinco minutos de jogo, fez 5 gols: dois da entrada da área, e três golaços de cabeça.
Os três de cabeça foram contra.
Por que não existem super-heróis como nos quadrinhos? Alguns filmes já exploraram esta ideia, colocando pessoas comuns (que não eram tão comuns, afinal) como super-heróis. Mas até essas ideias são falsas, pois não passam de filmes. Na vida real, a pergunta permanece: por que não existem super-heróis como nos quadrinhos? Estava na hora de mudar a história. Estava na hora de entrar para a história.
Sr. Muscarelli confeccionou uma roupa vermelha, uma máscara e saiu para a rua combater o crime.
Os vizinhos chamaram a polícia avisando que um lunático estava subindo no telhado das casas.
Sua pequenez era tamanha que Sr. Muscarelli achava que as pessoas só sentiriam sua falta quando ele estivesse morto. O problema é que somente o coveiro compareceu ao seu enterro.
Por essa, o Sr. Muscarelli não esperava.