Era um homem de isopor, esfarelado isopor. Torpor emocional, patético inspirar e expirar. Como se as engrenagens não se considerassem, como se os elos se desfizessem em simples argolas.
Homem de isopor postado ante sua própria sombra. Sombra a oeste, sob seus pés, agora leste. Até o dia seguinte, quando reaparecia, naquele sempre decadente oeste. Contou um, dois, três, atire-se antes que lhe seja atirado. Um, dois, três, a coragem se desfazendo na covardia do lado oposto, ou em uma desgostosa coragem e sua incapacidade em se salvar.
Ela, inconsolável diante das lembranças de um falso amor, rompido semanas atrás, perdia-se no frenético girar do liquidificador. Até que o homem de isopor se desloca, se aproxima, quase carregado pelo vento. Ela lhe diz seu nome, ele sorri farelos brancos que a brisa se encarrega de dispersar. As horas passam. O sol leva suas sombras de oeste a leste enquanto ela conta sua história. Até que ele abre a boca de poliestireno e derrama suas análises e conclusões. E o homem insensível descobre uma vocação: seu dom em consolar.
O plástico em mutação. Transfigura-se em carne e sangue. O sorriso não mais esfarela, e as palavras dele a enchem de esperança. Comovida com suas palavras, ela estende a mão e toca em seus braços.
E arrepia-se com o calor daquela pele macia e corada.