Agorafóbico. Agorafobia. Agora. Neste exato momento. Mas, logo agora?
Foi o que pensei. Os pés já batendo a calçada coberta de limo, em uma manhã infernalmente fria, quando a sensação de ser engolido e devorado por uma nuvem negra deflagrou. Para falar a verdade, fui realmente devorado por uma nuvem negra, uma maldita neblina mórbida em plena segunda-feira. Eu sabia que infartaria se desse um passo a mais. Vai por mim, infartaria pra valer. E me prove que estou errado, que não passa de uma ideia absurda, e te concedo um prêmio Nobel.
Melhor voltar para dentro. Foi o que fiz. Voltei para o saguão do prédio onde moro. Solução para cagaços como esse? Voltar para o apartamento, e tomar um café decentemente quente sentado em minha poltrona reclinável… ah, aquilo sim é poltrona! O problema que ao olhar para o elevador, fui invadido pela certeza de que aquela porcaria enguiçaria no meio do caminho. Tava na cara. O elevador não recebia manutenção desde que Cabral deu as caras por aqui. E se apenas enguiçasse, até que ficaria no lucro. Mas aquela velharia estava com cara de que ia desabar, quando os cabos se rompessem. Logicamente, somente depois de alcançar o oitavo andar – uma garantia de que poucos dos meus ossos sobrariam inteiro. Sabe como é, o infeliz do Murphy desenvolveu sua lei enquanto fazia uma resenha da minha vida.
Vamos pela escada, então, seu maluco. Foi quando coloquei o pé no primeiro degrau, e de repente, aquele corredor de escadas, as paredes pintadas num verde-musgo deprimente pra burro, me lembrou um hospital. E me senti sufocado e terrivelmente ameaçado por aquelas paredes, como se elas fossem se fechar e me esmagar. Eu sei, elas realmente iam me esmagar. Vai por mim. Dava até para ver o sorriso psicótico delas enquanto olhavam para mim, só esperando a presa se enfiar na armadilha.
Inevitável se perguntar: por que inventaram segundas-feiras? Vai ver que foi por isso que perguntei.
Fico no saguão, então, até que esse medo do medo de ter medo do medo desapareça. Cara esperto eu. Inveje-me. O problema foi quando aquele ambiente mórbido, sombrio, úmido, vazio, e qualquer outro adjetivo que você consiga encontrar começou a enfiar agulhas por todo o meu corpo. Em seguida, senti que tudo rodava. Eu acabava de ser jogado dentro de um liquidificador acionado na potência máxima. Tudo girava. Pedaços de mim aqui e ali.
Era o fim. Eu tinha certeza de que teria um infarto enquanto o prédio desabasse em minha cabeça, no exato momento em que um ladrão invadiria o saguão e meteria bala no meu peito.
Ouvi estouros, alguém entrando no saguão, dor no peito, tudo formigando. Estrondo, dores, grito, meu grito, … e tudo escureceu.
10 dias depois
Acordei em um hospital. Cercado de olhares curiosos e bocas sorridentes. Médicos e enfermeiras me olhando como se eu fosse um pop-star. E não é que eu era, afinal? Tomei conhecimento do que aconteceu por um dos médicos.
Dez dias antes, durante um ataque de pânico deflagrado pela agorafobia, um bandido entrou em meu prédio, e para me assaltar, disparou duas vezes contra mim. Neste momento, o prédio antigo resolveu desabar. E horas depois, ainda sob os escombros, encontrei ânimo para um infarto. E de tudo isso, saio eu, com vida. Um verdadeiro sobrevivente. Crônicas narrativas seriam escritas inspiradas em mim. Repórteres acumulados na porta do hospital esperando pela oportunidade de me entrevistar. Inveje-me.
Mas antes de dar entrevistas, eu precisaria sair daquele hospital. O que ainda levaria dias. Dias, ó céus! Aquela cama dura, aquelas paredes verde-musgo, eu não estou legal. Reclamo com a enfermeira que estou com a sensação de que algo ruim vai acontecer. Ela procura me acalmar, dizendo que é uma sensação normal, que logo vai passar, e deixa o quarto.
Nisso, o prédio começa a balançar.
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Muito bom!
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Excelente! Leia meu último artigo Taí…
Abraço.
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Abraço.
Marco.