Não era o que poderia se chamar de uma figura popular, mas estava um pouco além do anonimato. Seu nome era João D’Artagnan, mas era mais conhecido como D’Artagnan, o Filósofo. O típico personagem de crônicas engraçadas. Rapaz universitário, cursando Letras, magro, óculos de grau, e tênis All Star azul rasgado. Era consumidor inveterado de livros e gibis, indo dos mangás a Shakespeare, das antigas fotonovelas em papel-jornal colecionadas pela avó Beneditina, com quem morava, até os desmedidos contratos de licenças de software pago (coisa que, convenhamos, ninguém nunca leu). Já tinha lido o Houaiss de capa a capa (o Aurélio, três vezes) e todas as bulas de remédio da supracitada avó Beneditina, o que era quase uma farmácia inteira.
Era um jovem metódico, às vezes, com uma exagerada prudência que o levava a ter certos temores descomedidos. Mas era mais conhecido por ser um rapaz comunicativo. D’Artagnan procurava transmitir suas ideias com o máximo de emoção. E para isso não economizava recursos. Usava gestos esdrúxulos, emitia grunhidos, saltitava e chegava a soltar arrotos retumbantes – tudo para atingir o zênite da expressividade. Definitivamente, não era um rapaz comum. Era muito mais do que isso.
Era D’Artagnan, o Filósofo.
Estava almoçando no restaurante universitário com Filomeno, seu melhor amigo. “Melhor amigo, não“, diria. “Grande parceiro de porre“.
– Mas a mina nem olha para mim, D’Artagnan.
– Sua neutralidade vive te descoroando. Por que não chega junto?
– Estou planejando isso.
– E vai falar o quê?
– Bom, pensei em chamar ela para tomar um chopinho e…
– Quê??? Quê??? – D’Artagnan o interrompeu, arreganhando as pernas e socando o ar, indignado. – Tá maluco, mano? Quer conquistar a guria com… chopinho? – Ele falou “chopinho” fazendo cara de quem ia vomitar.
Filomeno deu de ombros.
– O que me sugere?
– Filo – D’Artagnan gostava de chamá-lo assim, uma discreta homenagem ao filósofo Filo, de Alexandria –, você precisa entender e contemplar a alma feminina. – D’Artagnan abriu os braços em concha e ficou com as mãos parecendo segurar duas bolas de cristal, frágeis e escorregadias, movimentando os ombros para frente e para trás. – Não a alma feminina como um todo, mas a alma da sua pretendente. Muitas mulheres fingem ser românticas, mas isso é só fachada. Mas eu conheço essa menina. Você se apaixonou pela garota certa. Ela é romântica. Suave. Pura. A musa perfeita para qualquer poeta. E uma garota como a Amanda não vai se apaixonar por um cara que a chama para tomar um chopinho. – Voltou a fazer a cara de prenúncio de vômito.
– Amanda? Que Amanda???
– Como “que Amanda”? A Amanda do terceiro ano.
– Tá maluco, D´Artagnan? Eu tô falando da Grazi Bico de Urubu.
– A Grazi? A do piercing na goela, que usa minissaia de meio palmo e que tem tatuagem até na sola do pé?
– Essa mesma, oras.
D’Artagnan pensou um pouco, assoviou, deu um tapa na coxa e arrematou:
– Chama a guria para tomar um chopinho.
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Gostei muito da história, até copiei no meu caderno
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legal !!!! MUITOH BOOMM ! KKKK !!! RSRS =P____________xD !! ENGRAÇADO
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Logo na leitura do software pago, uma gargalhada espontânea me encheu de bom humor o dia inteiro. Gostei demais dos seu estilo leve. Obrigado também pelas dicas.