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O Pior Escritor do Ano

Pior Escritor do Ano

Amélio Rupestre julgava-se o pior escritor do planeta. Já tinha lido muitos escritores ruins, mas quando lia seus textos no Word, chegava ter asco. Não era à toa que as editoras haviam-no recusado em todas as tentativas de publicar um romance. Respostas mesmo, recebeu de uma só. Aquela baboseira de “seu livro não se encaixa em nossa linha editorial”, quando se quer dizer “a inspiração de sua obra deve ter sido alcançada enquanto você estava embriagado”.

Era risível. Letras construídas sem essência, vigor ou paixão. Expelia frases grotescas com tanta poesia quanto um porco grunhindo. Aberrações vomitadas sem qualquer respeito aos cérebros alheios. Nem os mais próximos sentiam qualquer atração por sua narrativa tosca e personagens vazias.

Enquanto não conseguia escrever um grande livro, a obra-prima que colocaria seu nome entre os maiores escritores da atualidade, Amélio Rupestre tentava encontrar um pseudônimo impactante – afinal, não tinha como ser um escritor de respeito com esse nome. A cada semana, tinha um pseudônimo diferente. Sempre nomes estrangeiros, sempre. Segundo ele, escritores estrangeiros vendem mais. Já tinha passado por Amelian Rupert, J. W. Fairship, Fillemon Danskiewski. Mas nenhum soava como ele queria. Apesar de seus esforços, continuava sendo um péssimo escritor, com nome ruim e sem pseudônimo.

Até que a Academia, em um inspirativo momento de mau gosto, resolveu criar o prêmio de Pior Escritor do Ano. Uma espécie de Framboesa de Ouro da literatura. As editoras foram convidadas a enviar um indicado. O problema foi que todas elas enviaram o mesmo nome: Amélio Rupestre. Como solução, a Academia precisou mudar as regras. Pediu que, em vez de um, dois nomes fossem enviados. Se possível, junto com uma obra dos indicados (caso esta ainda não tivesse servido de combustível para alguma fogueira).

Pode-se dizer que foi uma competição desleal. Colocar Amélio, o gigante da monstruosidade literária, o rei das aberrações romancistas, para competir com simples mortais era covardia. Desnecessário dizer que, por unanimidade, Amélio Rupestre foi eleito o Pior Escritor do Ano. No ano seguinte, ganhou novamente o prêmio. E no próximo, também.

Apesar da publicidade, continuou sem publicar suas obras, sem conquistar leitores. Até hoje ainda tenta escrever o grande romance que reverterá o placar. Enquanto este dia não chega, ainda procura o pseudônimo ideal, aquele que poderá encabeçar uma verdadeira obra literária, uma obra digna de prêmio Nobel de literatura:

John Guillerman.

François Avassalanté.

Peter Graham Soul.

Pink Pig Porsch…

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