Era apenas uma salada, mas o estômago dava o aviso repulsivo: se comer, vou devolver. Duro momento, estático movimento. O estudante postava-se diante da merenda exageradamente esverdeada. A toalha marrom da mesa lembrava coxinha, o prato branco lhe trazia ternas lembranças de um sorvete de creme. E até as paredes amareladas do refeitório remetiam à cortejante batata frita da noite anterior.
Mas o conteúdo do prato, cardápio ingrato, era de um verde indigesto. Ele observava enquanto ritmava respirações profundas, olhos fundos, o prenúncio do vômito a cada instante.
Precisava definitivamente enganar o cérebro. E foi assim que usou de psicologia reversa: em uma só garfada, ele colheu alface e almeirão fatiados. E levou-os à boca com voracidade, repetindo o ato diversas vezes, como se estivesse amando a refeição. Não deu tempo para cérebro e estômago tentarem devolver a indigesta mistura.
Na hora do almoço, nada de psicologia. Cérebro e estômago agradeceram o terno pedido de desculpas enquanto ele se entregava à pizza fria e batata frita da noite anterior.