Você veio aqui pensando que era uma crônica. Ou talvez alguma dica para jovens escritores. Errou feio, parceiro. Hoje quero ter uma conversinha particular com você
Ei, leitor, eu conheço você. Não adianta ignorar e achar que estou falando com outra pessoa. Não, não estou falando com outro. Aliás, você deveria parar com esta mania de se esquivar, como se fosse um figurante na peça da vida. Antigamente, você não era assim. Então, reassuma seu lugar. Reassuma sua responsabilidade. Eu estou falando com você. E é inútil que seu coração se acelere como acaba de acontecer, porque isso não vai me fazer calar.
Eu sei que sua vida tomou um rumo diferente daquilo que sempre sonhou. Mas será que isso não aconteceu com outros também? Então, por que razão hoje, ao levantar de sua cama, você teve aqueles pensamentos inquietantes? Por que se achar a pessoa mais injustiçada do mundo? Por que nem ao menos tentou sorrir ao se olhar no espelho pela manhã? Aliás, que careta foi aquela que você fez com a boca? Se tivesse tirado uma foto, aquilo daria um meme. Você bombaria no Instagram.
Eu conheço você. Estive sempre por perto. Sei de todas as vezes que você saiu a noite, perambulando, sem qualquer direção, querendo apenas ver luzes e pessoas. Por um instante, eu quase senti a sua dor. Por uma fração de segundos, cheguei estar ali, ao seu lado, bem no exato momento em que você viu um casal e um bebê, e sentiu uma pontada de inveja. Lembra-se? Jamais vou esquecer daquele seu olhar.
Conheço seus elos e desapegos. E sei tudo sobre suas rimas. Sei que quando era criança, você tentou voar batendo os braços. Sei que você abre inúmeras abas no navegador, e sempre promete: “Daqui a pouco eu leio”, mas nunca, nunca, nunca lê. E sei que a pessoa que mais te fez gargalhar na vida, nem sabe o seu nome.
E agora, eu sei, você está pensando que este texto é para outra pessoa. Oh, céus! Chega de defensivas, por favor. O sinal para amadurecer soou, anos atrás.
Pensa que não sei quantas vezes você olhou para a imensidão e pensou em sumir? Pensa que não sei quantas vezes você acessou aquele site de viagens e viu quanto custava uma passagem só de ida para o Egito? Você quis largar tudo e desaparecer. Não se sinta mal com isso. Em nossa sina imperfeita, todos entramos em pane, vez ou outra.
É, eu sei que agora você acaba de dar um suspiro de alívio e pensar:
– Ufa, não é comigo. Eu nunca pesquisei passagens para o Egito.
Nunca pesquisou? Certeza? Cuidado, sua mente pode pregar peças em você.
Eu te conheço tão bem, embora não saiba disso. E, por isso, sempre fui capaz de interpretar as sombras em seus olhos. Ou você acha que não percebi seu desespero ao ver Jorjão se entregando aos braços e abraços da doce Madalena? Pensa que não sei que você se sentiu invencível quando viu a imensidão verde sobre aquela montanha em Machu Picchu? Ou que você sonhava em ter um hamster, mas no fim, acabou criando um wallaru?
Como assim? Não tem a mínima ideia de quem seja Jorjão ou Madalena? Franziu o semblante ao ler “wallaru”, e se perguntou: “Mas que porcaria é essa?”
Bom, talvez, no final das contas, eu posso ter confundido um pouco as coisas. Você talvez não seja quem eu pensava.
Mas que pesquisou por passagem só de ida pro Egito, ah, isso pesquisou.
Instagram: Juliano Martinz
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Obrigada pelo texto inspirador!!
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Muito bom! mas não sei o que é um wallaru
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Seu texto é genial! Muito obrigada por compartilhar conosco :)
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É um fato real que acontece em nossas vidas e as vezes teimamos em não aceitar com verdadeiro. No texto em questão, falou diretamente comigo.
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Por um momento, até o terceiro parágrafo, achei que realmente estava se referindo a mim. Incrível!
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clap, clap, clap….Martinz, texto excelente, aliás o que não é novidade vindo de quem vem. Parabéns!!! No aguardo de um livro seu. Sucesso!!!
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Muito legal o texto*-*
Parabéns.
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Texto genial! Mas o que é mesmo um wallaru?