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Crônicas corrosivas e gestos de amor

Como Escrever Melhor – Aprenda Com a Polícia

Ser policial envolve treinamento e disposição para entrar em uma linha de tiroteio. Eu e você queremos distância disso. Mas, ainda assim, como escritores, temos muito a aprender com os policiais

Ser policial não é tarefa para qualquer um. A pessoa que se propõe a isto necessita de uma excelente estrutura. E não me refiro apenas à questão física, como pode parecer. Mas, também mental e emocional. Poucas profissões possuem a capacidade de trazer emoções tão variadas, e em tão pouco tempo, como a de um policial. Satisfação, desapontamento, solidão, tensão, medo, sentimento de recompensa – tudo isso pode vir em um único turno. De forma suave ou como uma voadora no peito. Um policial vê o que há de melhor e de pior nas pessoas. E neste redemoinho, é preciso uma boa estrutura para lidar com sentimentos e sensações tão opostos bombardeando suas emoções.

Mas, se você está lendo isso, é provável que tenha chegado a conclusão de que a profissão ideal para você é ser um escritor, e não policial. Sendo assim, qual a relação entre a rotina de um policial e dos escritores?

Veja como a rotina de um membro ativo da polícia pode ajudá-lo em muitos aspectos a se tornar um escritor melhor.

Sssshhhh…

Procure prestar atenção nos policiais na próxima vez em que se deparar com eles. De modo geral, eles estão sérios, atentos e em silêncio. Você dificilmente encontrará policiais falando pelos cotovelos, tagarelando, gargalhando, etc… Pelo contrário, a maioria se mantém submersa em sua aura de observação, concentrados no que ocorre ao redor. Estão vigilantes, atentos às vozes e movimentos.

Vai por mim: para desenvolver sua literatura, você precisa imitá-los. Então vamos combinar o seguinte: parar de tagarelar um pouco e prestar atenção no que as pessoas estão dizendo e fazendo ao seu redor, ok? Há um universo de ideias e inspiração pulsando no raio de alguns metros de sua pessoa, ao seu alcance, e que vão auxiliá-lo na hora que se sentar em frente ao seu computador. Seu romance, conto ou crônica agradecem.

Apegue-se ao Relevante, Ignore o Restante

Quando uma pessoa procura um policial e relata alguma ocorrência, como um crime, geralmente conta uma infinidade de detalhes. Muitos destes podem ser úteis, mas a maioria não oferece nenhuma relevância para o caso. Por isso, os policiais possuem um senso afiado para definir o que é relevante para o seu relatório e o que é supérfluo. Juízes e procuradores precisam de fatos, não de detalhes sem qualquer valor para a solução do crime.

Os escritores precisam aprender esta importante lição com os policiais. É necessário separar o que é realmente importante dos detalhes superficiais. Este processo de edição pode ser feito enquanto se escreve. No entanto, aconselho deixar estes cortes mais profundos para serem feitos quando for revisar seu livro.

Escritores consagrados podem se dar ao luxo de usar uma página inteira para descrever coisas banais, como os sapatos do vilão. Isto porque tais escritores possuem uma legião de fãs dispostos a cobrir diversas páginas com descrições frívolas até chegar a essência do romance. Mas isso não acontece com jovens escritores. Se não mantiver sua escrita simples, as pessoas vão desistir da leitura em pouco tempo.

Apenas tome cuidado para não cortar detalhes importantes. Uma história bem contada é essencial para que o leitor consiga se imaginar dentro da narrativa. Portanto, ignore (e elimine) somente o que for realmente irrelevante.

Anotar Para Não Esquecer

Para não perder nada, é sempre bom anotar. Policiais costumam carregar blocos de anotações em seus bolsos. Não saia de casa sem o seu. Pode ser um bloco de notas impresso ou um aplicativo em seu smartphone. Mas tenha a sua disposição um recurso para anotar ideias interessantes que colher do universo de inspiração ao observar.

Em Busca do Perigo

O que você faz se está em um ambiente público e ouve tiros? Se for como eu, você corre. Exceto se você for um policial. Estes homens e mulheres correm em direção ao perigo. Para isso, parceiro, é preciso mais do que coragem. Como já mencionado, eles precisam de uma boa estrutura emocional. A tensão está ali, mas ela não pode prejudicar o raciocínio, nem fazê-los agir precipitadamente.

Como escritor, de certa forma, você corre em direção ao perigo. Você se torna alvo de críticas. Estas podem vir em uma forma polida ou por meio de palavras agressivas da pior espécie. É verdade, ninguém gosta de ser rejeitado ou de ouvir críticas. Mas, na verdade, como já mencionei outras vezes neste blog, ser criticado pode ajudá-lo a escrever melhor, desenvolver suas habilidades como autor literário.

Lembre-se que policiais procuram locais onde o perigo é mais evidente, onde a probabilidade de ocorrer crimes e infrações são maiores. Você também, não tente evitá-los. Ao lançar suas obras de forma impressa, em formato eletrônico ou em um blog literário, você coloca seu peito como alvo de duras críticas. Para isso, assim como um bom policial, é preciso ter coragem e enfrentar os desafios.

Café e Rosquinhas

Nos filmes hollywoodianos, sempre vemos o estereótipo de policiais: sentados em seu carro, tomando um café em um copo de 500ml e comendo rosquinhas. Seja café e rosquinha, ou qualquer outra coisa, a verdade é que policiais precisam sim de uma pausa para recompor mente e estômago. Alguns turnos policiais chegam a durar 12 horas. Não dá para manter-se efetivo se não houver pequenas pausas para um café e alguma coisa mais sólida.

No artigo com dicas para não se distrair, veja a dica número 6. Ali menciono a necessidade de dar uma folga para o cérebro. Isto significa dar pausas de uns 5 minutos a cada 25 ou 30 minutos escrevendo. Estas pausas são ótimas oportunidades para descansar, e tomar ou comer alguma coisa. Este hábito ajudará você a revigorar sua mente, e a manter-se mais focado e saudável.

Treinamento, Sempre

Policiais estão sempre envolvidos em cursos, seminários e convenções. Isto se dá por diferentes motivos, por exemplo, mudanças na lei e boas práticas para colocá-las em ação. Este tipo de reciclagem é importante para que policiais estejam sempre renovados no cumprimento correto do seu dever.

Escritores também precisam desta reciclagem. Você pode tirar proveito de dicas sobre como escrever melhor na web, como neste blog literário. Além disso, pode assistir conferências, webinars e outras aulas online para jovens escritores.

Procurar se manter atualizado melhorará a qualidade da sua narrativa, tornando suas histórias mais envolventes e aumentando o impacto emocional sobre os leitores.

5 Comments

  1. Maria Helena Mota

    at

    Oi Juliano. Como vai?
    O Juliano é tão engraçado! E com um grande sentido de humor! Arrancou-me um grande sorriso com as duas frases no final do artigo: “Receba voz de prisão”
    “Ops, digo, Novidades.”
    Não conhecia o seu blog e estou adorando.
    Também eu, quase no outono da vida, procuro ainda, dicas para escrever um romance. Mas vejo que a tarefa não é fácil.
    Desejo-lhe um bom final de semana.
    Abraço.

  2. Rafaela

    at

    Adoro romances policiais. Na verdade adoro os policiais em si (honestos é claro) e adorei a comparação entre escritores e policiais, talvez seja por isso que eu goste tanto dos dois.

  3. Caríssimos amigos e amigas faz tempo que penso ou medito sobre escrever algumas histórias e de quando em vez fico mais motivado, pois sempre alguém sugere para que eu escreva um livro.

    Hoje decidi buscar informações a respeito e confesso a vocês, eu fui surpreendido com o que encontrei. Sinceramente, eu sinto como se fosse um piloto de sei lá um 737, ou seja, estou autorizado a dar a partida e decolar do aeroporto da minha imaginação.

  4. Johnny Notariano

    at

    Realmente, escrever hoje não é o mesmo que há 40 ou mais anos. Antigamente se fazia livro pensando no tamanho e quantidade de folhas (páginas). Havia tempo e as madames da época tinham todo o tempo do mundo para ler. Daí a cultura ue tinham era demais. Tão grande que sentiam sono ao ler e geralmente levavam para a cama. Por isso o nome livro de cabeceira. Hoje não se tem tempo nem de ler no banheiro. Por outro lado ninguém mais se interessa por cultura literária. A solução é como a comparação do policial. Tema bom; poucas páginas e formato para se ler no ônibus.
    Obs: Eu tenho um livro pronto para ser editado, assunto polêmico e atual. Mas agora sou aposentado e não tenho mais aquela grana mensal que eu ganhava na USP. Opção seria livro digital, mas não confio muito.
    De qualquer forma muitíssimo obrigado. Gostei da dica.
    Abraços Johnny Notariano

    • Alexandre

      at

      Sr. Johnny procure saber sobre clube de autores. Autopublicação e o senhor nao gasta nada.

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