Corrosiva

Crônicas corrosivas e gestos de amor

Category: Crônicas Engraçadas (page 2 of 2)

Descompromissadas Crônicas Engraçadas e Curtas da literatura corrosiva. Um pouco de bom humor para espantar a seriedade da vida.

Falta graça neste mundo. Faltam gargalhadas nas esquinas. Mundo insano, a correria da vez. Falta rir da vida, rir de si mesmo. Qual foi a última vez que riu de seu papelão, de sua gafe, dos seus erros primários?

Ria de você. Ria de mim. Ria do que escrevo. Estas são minhas Crônicas Engraçadas e Curtas. Talvez não tão engraçadas. Talvez nem tão curtas. Se o tema escolhido para esta página foi tão errôneo, não me condene. Fiz o que pude. E se fiz errado, me perdoe, mas vou rir.

E se quiser rir comigo, podemos nos divertir pacas.

Então, sirva-se destas Crônicas Engraçadas!

cronicas engraçadas e curtas

Crônica moderna sobre as belas e as feras

Toda mulher linda tem uma amiga feia. Extremos de um espectro. Em todos os casos, são as conselheiras. O anjinho (ou diabinho) montado no ombro da beldade lhe dando conselhos sobre o que fazer e o que evitar no seu mundo de popularidade e bel-prazer.

O que leva mulheres lindas a terem sempre uma amiga feia? Parece ser algo próximo a uma compensação. Uma boa ação para com aquelas que não tiveram a honra genética de serem agraciadas com contornos melhores definidos.

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OS ANTISSOCIAIS III

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DE VOLTA AO CONSULTÓRIO DO DR. PYLE LECTER

Primeira segundona do ano. 16h38. E já estou no consultório mórbido do meu psiquiatra psicótico. Uma maneira boa de se começar o ano: reclamar um monte e ver um cidadão com cara de doido ranger os dentes e me chamar de otário. E ainda pago ele. Coisa de otário.

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UMA FRASE TRISTE, POR FAVOR

Escritora compulsiva e com um acúmulo de distúrbios emocionais, tinha o hábito de começar a escrever seus livros sempre com uma frase trágica. Independente do desenrolar da história, a primeira frase, precisava de um impacto lúgubre. Sempre fora assim. Possuía 7 romances publicados, todos com o desencanto no princípio.  Como sua vida, diria.

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Como se tornar um perdedor em 10 dias

Estava farto de livros de auto-ajuda. Cansado de frases de efeito que entulhavam Facebook. Extenuado de e-mails em massa com mensagens positivas, melosas, otimistas. Seja um conquistador. Seja um vencedor. Seja o rei do mundo… blá, blá, blá. No fundo, achava que tudo não passava de uma tentativa de negar a beleza da simplicidade das coisas. Ou talvez as pessoas só estivessem camuflando o desespero que vive sob seus travesseiros.

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EU NÃO SOU EU

Certo dia, ao acordar, descobriu-se outra pessoa.

Primeiramente, estranhou o aroma que impregnava o ar. Era um cheiro de novo, esmero, limpeza. Percebeu um odor suave, talvez doce, amadeirado. Perfume, certamente. De quem seria? Dele, não mesmo. Tinha alergia a essas frescuras. O lençol cheirava a lavanda… mas ele não havia vomitado meio litro de álcool e porçõezinhas, antes de cair desacordado? Lembrava-se muito bem. Uma roda de amigos, noite passada. Barzinho da esquina. Só ele: 10 latinhas de cerveja, duas caipirinhas, um vermute, porção de salame, de presunto, de camarão e de calabresa. Depois só alguns flashes. Dois tombos na rua. Uma queda na escada ao subir para o apartamento. A testa sangrando. Vomitando tudo na cama. Deitando em cima e… nada mais.

Olhou ao redor. Estava em casa. Os mesmos móveis. Tudo no seu devido lugar. Mas não exatamente tudo. As latas de cerveja que decoravam o chão haviam desaparecido. Nenhuma bituca de cigarro sobre a cama. Nenhum escarro esverdeado ressequido sobre a parede, agora branca, mas outrora, quase toda esverdeada. A mesa estava limpa. As cortinas estavam limpas. Ele estava limpo.

Deu um salto da cama e ficou de pé. Ereto, como um ginasta. Habilidade? Equilíbrio? Estranho. Nessas horas, costumava tropeçar, catar cavaco pelo quarto apertado, bater a cabeça na porta e xingar todas as almas. Aquela disposição, aquela limpeza, começou a lhe preocupar pra burro.

Correu para o banheiro – sem tropeçar, sem cair. Que estranho! Ao olhar no espelho (que não estava coberto de manchas brancas) viu outro rosto. Não era ele. Na verdade, até era ele. Mas não era. Este tinha cabelos. Mas não havia raspado a cabeça na semana anterior por causa das pulgas e piolhos? Havia raspado as sobrancelhas também (achava bonito ser grotesco). Mas agora elas estavam ali, caramelo escuro, cuidadosamente assentadas acima dos olhos estupefatos que não acreditavam no que viam. Não havia o familiar olhar lânguido, a boca entreaberta, nem restos de salame e queijo pútrido grudados em seu queixo, após a última regurgitada antes de desmaiar. Enfim, o inferno, era uma outra pessoa.

Sonho, sonho, pensou. Deve ser um maldito sonho. Mas não era. As sensações estavam ali, em todos os detalhes. Cerrou os olhos. Socou a parede. Gritou de dor. Abriu os malditos olhos. E lá ainda estava a figura confiante no espelho do banheiro.

Eu Não Sou Eu

Melhor tomar algo pra dar partida no cérebro. 200 ml de vodka resolveriam, pensou, modesto. Mas não encontrou o divino elixir. Nem na mesa, nem na geladeira, nem em qualquer outro canto. Muito menos cerveja, vinho, aguardente, ou qualquer porcaria que tivesse estampado no rótulo seu grau alcoólico. Ao contrário, só encontrou uma nojeira de dar nó no estômago: sucos e sanduíches naturais. Pegou uma destas garrafas plásticas, na geladeira. No rótulo, lia-se: melancia com uva e hortelã. Se estivesse pensando em parar na UTI, dois goles bastariam.

Correu pra gaveta. Um cigarro, por favor. Precisava de um cigarro. Mas só havia chicletes sem açúcar e barras de cereal. Sobre o armário, flocos de aveia e soja. Sobre a geladeira, uma bandeja com banana e laranja. Começou a se sentir tonto. Ia desmaiar. Normal. Costumava desmaiar de bêbado todos os dias. Chegou a girar os olhos simulando um desmaio, bambeou propositadamente as pernas, mas… não desmaiou. Bem que tentou, é verdade. Mas não conseguiu. Pelo contrário, nunca se sentira tão bem. Tão disposto e jovial. E isso estava lhe deixando muito mal.

Voltou para o espelho, e o sr. Saúde ainda estava lá, cada vez mais corado. No desespero, começou a chorar. A bem dizer, apenas tentou. Não saíram lágrimas. Fez todo o esboço, a cena típica: sentou-se na cama, curvou-se sobre as mãos espalmadas, deu um retundo: aaaaaaaaaaaahhh, mas não chorou. E como haveria de chorar? Não havia deficiências emocionais nele. Sentia-se forte, confiante, corajoso. E esta porcaria estava deixando ele tremendo de medo.

Tentou lutar contra aquilo. Acordar, voltar ao seu mundo. Sentir o cheiro azedo no ar, a cama úmida, a cueca pesada e a certeza de que precisava usar fraldas. Este era o seu mundo. Seu lar. Um lugar onde era rei.

E de repente, o pior aconteceu.

Foi invadido por um desejo gigantesco. Uma força propulsora rompendo seu interior. Uma ânsia guiando seu corpo numa só direção. Ele gritava “não, por favor, não”, mas o desejo era de uma intensidade trovejante, dominando-lhe os músculos, escravizando seus ossos. Ainda que lutasse, não resistiu.

O corpo foi sendo arrastado pelo desejo em direção a cozinha. Abriu a geladeira, contemplou a garrafa e salivou de desejo.

– Por Deus, nããããããããããããooooo!! – gritou, antes de entornar a garrafa, e tomar o suco de melancia com uva e hortelã num gole só.

Teu Medo, Meu medo

Medo é contagioso. Pelo menos em casos como o meu, em que a coragem possui baixíssima imunidade. Dizem que compartilhar seus medos pode lhe trazer benefícios. Mas, o que não te contaram é sobre o grande potencial de contaminar os ouvintes com o seu temor.

Foi assim comigo, dezembro passado, espremido entre um trêmulo oriental e a pequenina janela do avião. Procurava me ajeitar no espaço reduzido para um cochilo tranquilo, quando o sujeitinho do lado pronunciou a maldita frase:

– Essa porcaria vai cair.

Um homem-bomba? Olhei para o lado e vi o coitado se borrando. Percebendo logo que não se tratava de um suicida, perguntei:

– Primeira vez?

– Oi?

– Perguntei se é a primeira vez?

– Tô mais preocupado se vai ser a última.

Procurei sorrir e confortá-lo:

– Relaxa. Viajar de avião é mais seguro que andar de carro ou a pé.

– Ah é? Caiu um  semana passada, você viu?

– Sim. Dos mais de 100 mil que costumam levantar voo todos os dias.

– De que adianta 99.999 chegarem ao destino, se o meu resolver cair?

Eu dei risada e completei:

– Ei, não seja egoísta. Não é seu, é o nosso avião. Se você se esborrachar, eu vou junto.

Ri novamente, mas ele não achou graça. Ficou me olhando com uma expressão reprovadora pela piada fora de hora. Por isso, falei sério:

– Escute. Procure respirar fundo e pense em coisas positivas. Você é casado?

– Quer saber se vou deixar viúva?

– Ei cara, não exagere. Escute: é normal sentir medo. É só não deixar o medo te dominar. Procure fechar os olhos e…

– Fechar os olhos? Só falta me pedir pra dormir.

– Não seria uma má ideia.

– Você sabia que a dor é maior se você sofre um impacto enquanto está dormindo?

– Como assim?

– Quando você está acordado e sofre uma lesão, você contrai os músculos e isso diminui a dor. Mas se você está dormindo, os músculos ficam relaxados. E aí, parceiro, a dor é bem maior.

– Mas se você está dormindo, nem dá tempo de sentir dor.

Ele se inclinou pro meu lado e sussurrou:

– O cérebro continua enviando sinais de dor por alguns segundos. Você sofre como um porco.

– Onde você ouviu isso?

– Eu vi no YouTube. Tinha um médico dessas coisas falando sobre isso.

De repente, perdi a vontade dormir.

Tempos depois, ele disse:

– Olha como ele balança.

– Mas isso é a turbulência.

– Mas tá balançando demais. Isso não é normal.

– Será?

– Eu vi um vídeo na internet e o rapaz falou que, não sei porquê, quando balança de um jeito, o avião cai.

– “De um jeito”? Mas, de que jeito?

– Desse jeito, homem! Ah, e o cara era especialista.

– Especialista em quê?

– Ah, nesses troços de avião.

Foram 20 minutos, os mais longos de minha vida. Até que, para meu alívio e sobrevivência de todos,  o avião pousou sem problemas. Na saída, o “vizinho” atormentado ainda arrematou:

– É, dessa vez escapamos. – E pela primeira vez em nosso desagradável encontro, sorriu.

O psicótico deve ter ido pegar um táxi, pela expressão de alívio. Quanto a mim, ainda tinha que pegar uma conexão. E as palavras do cidadão me acompanhavam.

Na outra aeronave, já acomodado, não estava com sono, nem com vontade ler ou qualquer coisa que o valha. Assim que levantamos voo, olhei para um tranquilo senhor, sentado ao meu lado. Percebendo que eu não estava lá muito bem, ele me perguntou:

– Está tudo bem, filho?

Após engolir em seco, arrematei:

– Não sei não, cara. Mas acho que essa porcaria vai cair.

O Milagre

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Diário de Manolo DDA I

Crônica humorística – Diário de Manolo DDA

Diário de Manolo DDA - Crônica Humorística

Infame Diário,

Hoje é quarta-feira, um pós-feriado. Não precisa ser um gênio pra perceber que isso me desanima. Meu humor já denuncia isso. Mau humor, ressalvo. E o que esperar de pós-feriados que sempre começam com a mesma perspectiva das segundas-feiras: uma semana inteira (ou o restante dela) de encheção?

Se você, bastardo diário, acha que sou um reclamão exagerado, deixe-me contar-lhe um pouco dessa quarta-feira que eu prefiro rotular como fossa.

Não acordei legal. Dores nas costas por causa da minha lordose. Ou seria cifose? Tem hipercifose também, não tem? Depois vou conferir no Aurélio. Eu sempre confundo esses prefixos. Vou me concentrar nos sufixos, então. Neles, eu me garanto. Minha “ose” me incomodava pela manhã. Levantei, tomei café e saí de casa. Ali já percebi que havia algo de errado. Toda aquela aglomeração. E eu assustado. O terapeuta psicótico diz que isso é síndrome do pânico. Tá bom.

Mas o pior estava por vir, patético Diário. Dentro do ônibus, a pior coisa com que já me deparei. A propósito, por que sempre te chamo de Diário com maiúscula? Viu? De novo! Que porcaria.

Onde eu estava? Ah, o ônibus. Aglomeração. Falta de ar. E então aconteceu. Aquela visão dos infernos. Era… era… o que era mesmo? Recapitulando. Eu entrei no metrô. Estava lotado. Ou não estava? Vamos tentar de novo. Vou até abrir um novo parágrafo para facilitar o fluxo de ideias.

Eu entrei no avião. Estava vazio e eu me sentia a vontade. Livre, leve, senhor de mim mesmo. Ali tive a impressão de que essa quarta-feira seria um ótimo dia. E não me enganei.

Afinal, eu nunca me engano, queridíssimo Diário.

DDA é a mãe!

Quando se olha no espelho, você só repara nessa carapaça decadente que envolve seus músculos e órgãos desgastados, ou vai além?

Vou lhe dizer o que faço. Olho para meu rosto. Tá lá. No espelho do meu quarto. O que há atrás do olhar lânguido, das olheiras, da pele ressequida e cansada de tantas inúteis primaveras? Lá se esconde o lobo frontal. Controla minhas ações, meus movimentos, a estratégia. Se vou adiante, um passo atrás ou se devo fincar os pés aqui. É o grande responsável. Por vezes, o grande culpado. Investi em poupança em vez de em debêntures? Péssimo investimento? Maldito lobo frontal.

DDA é a Mãe - Crônica Humorística

Os lobos occipitais me fazem delirar. Estímulos visuais e essa coisa toda. Pegam aquela matéria monumental e entalham em minha memória. Sabe aquela loira, os cabelos revoltosos ao vento, seu caminhar como a dança de uma bailarina sob doce sinfonia? Pois é, que loira! Bendito occipital!

Há os temporais, também. E os parietais. Isso tudo junto pesa 2% do meu corpo. Mas recebe 25% do sangue que é bombeado pelo coração. Funciona a contento. Estou convencido que sim. Mas nem todos. Nem todos, eu digo. E reafirmo.

Meu terapeuta não vai com minha cara. Com a carapaça, digo. E, por extensão, nem com meus lobos. Tem sempre uma doença pronta para me presentear. Parece carregar algumas na manga. Eu chego lá, digo algo e ele saca alguma disfunção tão rápido quanto John Wayne sacava uma pistola. Psicopatologias. Não estou feliz com minha carapaça, e ele diz que tenho transtorno dismórfico corporal. Me atrapalho numa leitura qualquer, e tenho dislexia. Invejo alguma habilidade animal, e ele vem com licantropia clínica.

E a última foi culpa da carteira. Na verdade, culpa da minha distração. Distração não é doença. Ou é, e eu perdi metade do filme? Onde está a carteira, eu me perguntava. Nem cá, nem ali, nem lá. Desisto. Fui ver, dentro da geladeira. Que maravilha! Contei pro tragicômico – que ideia a minha também! – e o que ele disse?

– Você tem DDA.

– Quem?

– DDA: Distúrbio do Déficit de Atenção Sem Hiperatividade.

Pronto! Coloco a carteira na geladeira por distração, e tenho essa tal DDA. Era o que faltava. Mas até que saiu barato. Do jeito como ele me soma patologias, foi milagre me diagnosticar “SEM hiperatividade”. Tá certo que não foi exatamente um incidente isolado. Já coloquei sorvete no micro-ondas. E sou incapaz de manter uma conversa por dois minutos sem me distrair. Mas sou um homem muito ocupado. Milhões de coisas na cabeça. Turbilhões. Estresse. Essas coisas. Isso não é doença. Isso é falta de praia. Isso é falta de…

Onde eu estava?

Ah, eu falava da garota. Rebeca. Que nome! Não dá pra ter um nome desses e não ser monumental. Um metro e setenta. Cabelos vastos e esvoaçantes. Olhos grandes e magnetizantes. Nos olhos dela, corre um letreiro: “Eu Sei Que Seus Occipitais Estão Atordoados”. E como estão, baby! E como estão!

Jantar, eu e ela. Tremo. Quem não tremeria? Até a chama da vela sobre a mesa é trêmula. Mas meu terapeuta diz ser fobia social. É mesmo um fanfarrão! Ela estende a mão sobre a mesa. Não toca a minha. Estende a mão e olha ao redor. Espera que eu tome a iniciativa. Isso se chama “charme”. Eu? Bem, felicidade em cada poro. Quem não estaria? Mas o terapeuta me alertou:

– Felicidade tem de ter os pés no chão, Manolo. Felicidade sem razão aparente é um dedo no gatilho.

Distúrbio bipolar. É o que ele diz. Se é invadido por alegrias sem razão, é bipolar. Terapeuta chato. Mas não é esse o meu caso, obviamente.

Que caso?

Enfim, onde eu estava?

Ah, a receita.

É preciso primeiramente fritar o camarão e então deixar escorrer. Após isso, refogue em fogo alto com cebolinha e gengibre. Depois é só servir.

Como? Eu não lhe falei sobre a receita de camarão? No que você estava pensando na última meia hora que gastei dois litros de saliva lhe ensinando essa receita centenária de minha família?

A propósito, quem é você?


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